O presidente Bolsonaro vem cometendo inúmeros crimes de responsabilidade durante a pandemia do novo coronavírus. Crimes de ação e crimes de omissão que levaram o País a ficar sem meios de imunização de um número expressivo de sua população. O que vem acarretando aumento significativo de infecções, de descalabro no atendimento de emergência – como ocorrido em Manaus – e mortes. Muitas mortes!
Até o jornalão Estadão traz hoje em seu editorial “Pedidos de impeachment” uma avaliação – que deve refletir a opinião de parte da elite econômica – de que, em vez de consolidar uma natural liderança no enfrentamento da crise sanitária, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu a proeza de alcançar 61 denúncias de crime de responsabilidade, sendo 54 após a declaração da pandemia da Covid-19. O editorial é taxativo ao dizer que “no meio de uma pandemia, com inúmeras preocupações e desafios a serem enfrentados, cidadãos das mais diversas orientações políticas e ideológicas, bem como partidos e entidades, viram-se na obrigação de denunciar o Presidente da República por crime de responsabilidade”.
Continua o editorial do Estadão: “Esse excepcional conjunto de pedidos de impeachment durante a pandemia não pode ser ignorado” e conclui dizendo que existem 56 pedidos sobre a mesa do presidente da Câmara dos Deputados que precisam ser encaminhados. O editorial arremata: “Depois de quase um ano de pandemia, Jair Bolsonaro deu mostras de que não vai mudar. O Direito e a Política dispõem de instrumentos para sanar essa situação”. E conclui aconselhando o presidente da Câmara não ter receio de usá-los. “O País não pode ficar refém de alguém que despreza não apenas a Constituição, mas a vida e a saúde da sua população”.
Como se vê, o recado da elite conservadora paulista é o de que está na hora de implantar o processo de impeachment. No entanto, estão em andamento as articulações para definição da nova presidência da Câmara dos Deputados. De um lado, o deputado Arthur Lira (PP-AL), apoiado pelo presidente Bolsonaro. De outro, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), apoiado pelo atual presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). A atual contabilidade de apoios a favor deste é pequena e pode sofrer defecções durante a eleição no início de fevereiro, na medida que a votação é secreta.
Se, por um lado, o deputado Rodrigo Maia pode iniciar o processo de impeachment, pois tem toda a legitimidade e instrumentos. Provavelmente, está avaliando como está a correlação de forças. Não há dúvida que o presidente Jair Bolsonaro tem poder e dinheiro para comprar sua manutenção no cargo, apesar do clamor da sociedade. Por outro lado, as restrições provocadas pela pandemia dificultam manifestações massivas nas ruas apoiando o impeachment.
Apesar disso, há convocações pró-impeachment para este sábado, 23 de janeiro, puxadas por partidos e movimentos populares. Nas redes sociais, há uma ebulição a esse respeito e podemos aumentar a pressão. Os próximos dias serão decisivos para o desfecho dessa situação. Às ruas pois, com todos os cuidados, mas com coragem de mudar.