Além de obras do artista, haverá encenação, neste sábado (11/11), de uma de suas peças do Teatro Experimental do Negro, em versão dirigida por Adyr Assumpção
Com a abertura, neste sábado (11/11), da exposição “Quarto ato – O quilombismo: Documentos de uma militância pan-africanista”, o Instituto de Arte Contemporânea Inhotim e o Instituto de Pesquisa e Estudos Afro-brasileiros (Ipeafro) concluem um projeto iniciado em dezembro de 2021, quando foi inaugurado o primeiro ato da retrospectiva de Abdias Nascimento (1914-2001).
Além do ato final da exposição do artista paulista, o Inhotim inaugura hoje a obra “Giro” (2023), da artista mineira Luana Vitra, na Galeria Marcenaria.
Os oito núcleos do Projeto Abdias Nascimento no Inhotim buscam retratar o caráter multifacetado do poeta, dramaturgo, ator, escritor, artista e político, cujo pensamento quilombista foi impresso em sua obra, antes mesmo que ele conceitualizasse o termo.
“A gente quis mostrar no último ato esse aspecto de que o quilombismo, que é tão discutido hoje, e que foi apresentado pelo próprio Abdias como tese nos anos 1980, já estava sendo pensado em suas ações. Ele agiu e depois conceitualizou isso como quilombismo”, afirma o curador e coordenador do Inhotim Douglas de Freitas. “A nossa proposta aqui é honrar toda a produção do Abdias – o teatro, o texto, a produção artística dele enquanto pintor e a atuação política”, acrescenta.
Cocurador da mostra e pesquisador do Ipeafro, Júlio Menezes Silva observa que um projeto construído ao longo de quatro anos – a parceria foi firmada em 2020 – entre dois institutos de portes e naturezas tão diferentes exige muita paciência, conversa e idas e vindas.
Algumas das questões com as quais os institutos tinham que lidar, conforme aponta Douglas de Freitas, eram: “Como expor outras coleções? Como expor uma coleção de um museu que não tem sede? Como receber esse museu para que ele tivesse sede no Inhotim? Além de, claro, pensar também como a obra e o trabalho de Abdias conversariam com o Inhotim”.
O caminho tomado resultou, segundo o curador, em um projeto que transcende a obra de Abdias em si. Outros artistas negros consagrados na história da arte brasileira também estão expondo no Inhotim, como é o caso de Mestre Didi. A presença de jovens artistas também se acentuou.
Nova vocação
“Giro” (2023), a obra que Luana Vitra inaugura hoje, foi comissionada pelo Inhotim especialmente para a Galeria Marcenaria e marcará o início de uma nova vocação para o espaço, que passa a receber exposições temporárias, assim como as galerias Lago, Fonte, Mata e Praça.
Atualmente expondo na Bienal de São Paulo a instalação “Pulmão da mina”, Luana Vitra apresenta, em “Giro”, uma composição diversificada de elementos, incluindo vasos de cerâmica produzidos em colaboração com Benedikt Wiertz, do Ateliê Xakra, e Alex Santana, ambos situados em Brumadinho.
A obra utiliza também de pedras coletadas diretamente do Inhotim e apresenta peças em cobre fabricadas por Aitam Camilo, da ArteTude. A instalação questiona nossa conexão com a paisagem, sobretudo a de Minas Gerais.
Neste sábado (11/11) e domingo, ainda no contexto da inauguração do quarto e último ato da mostra Abdias Nascimento, uma versão adaptada da peça “Sortilégio – Mistério negro”, escrita pelo artista, será apresentada, sob direção de Adyr Assumpção.
“A presença do Adyr como diretor dessa peça traz uma síntese dessa proposta, o resultado do que pensamos é o diálogo com o entorno, tentar de alguma forma fazer a presença do Abdias e do Museu de Arte Negra transcender o espaço expositivo”, afirma Júlio Menezes Silva.
A peça foi originalmente apresentada pelo Teatro Experimental do Negro. Na adaptação que será encenada no Inhotim, as forças femininas ganham relevo, ao adquirir um papel preponderante na metamorfose do personagem Emanuel.
Brumadinho é o local de residência de parte do elenco, assim como de Adyr Assumpção. Na peça, o diretor incorporou elementos de sua relação com a obra de Abdias do Nascimento, questões contemporâneas sobre raça e a realidade local.
No encerramento da parceria entre o Inhotim e o Ipeafro, a avaliação de Júlio Menezes Silva é que “esse programa tinha o objetivo de provocar discussões públicas acerca de assuntos raciais e foi muito bem-sucedido nesse sentido”.
O pesquisador do Ipeafro diz que “estamos no papel de tentar tensionar as relações que são estabelecidas dentro do museu, a partir de se pensar a presença da pessoa negra na condição altiva de artista, curador, diretor de museu, etc. Nosso pensamento é nesse caminho e tenho certeza de que o Inhotim não será o mesmo depois da presença de Abdias”.
Douglas de Freitas tem conclusão semelhante. “Esse projeto reverberou de forma a termos hoje 100% dos espaços temporários do Inhotim ocupados por artistas negros”.
Peça de graça
Os ingressos para a apresentação da peça “Sortilégio – Mistério negro”, no Teatro do Centro de Educação e Cultura Burle Marx, no Inhotim, neste sábado (11/11), às 12h e às 14h, e no domingo (12/11), às 12h são gratuitos para os visitantes do Inhotim e devem ser retirados no teatro, que tem capacidade para 200 pessoas, por ordem de chegada. O espetáculo tem 35 minutos de duração.
Instituto Inhotim
• Inauguração da exposição “Quarto ato – O Quilombismo: Documentos de uma militância pan-africanista”, com obras de Abdias Nascimento, na Galeria Mata; e da instalação “Giro”, de Luana Vitra, na Galeria Marcenaria, neste sábado (11/11), no Instituto Inhotim (Rua B, 20, Fazenda Inhotim, Brumadinho). Visitas de quarta a sexta-feira, das 9h30 às 16h30; sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30. R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia).
•Mais informações pelo site inhotim.org.br.
Foto da capa:
Obra de Abdias Nascimento integrante da mostra que será aberta hoje no Inhotim. Crédito: Coleção Museu de Arte Negra / divulgação
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