“Aprendi o silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos; e, por estranho que pareça, sou grato a esses professores.” –
Khalil Gibran
A frase do grande escritor libanês pode nos parecer romântica e até mística, mas se nós não aprendermos com quem pratica atos nefastos, como é o caso de Trump na atualidade, nada faremos para combater o racismo, a homofobia, o idadismo e a intolerância religiosa.
Neste momento é imperioso lembrar-se de Mahatma Ghandi e sua luta pacífica contra o opressor. O opressor era violento, ele propôs a luta, porém sem violências.
Algo como fez o pastor batista Martin Luther King Jr na sua luta contra a segregação racial.
NO BRASIL
Em 2024, o Disque Direitos Humanos (Disque 100) registrou um total de 2.472 denúncias relacionadas à intolerância religiosa. Esse número representa um aumento de 66,8% em comparação ao ano anterior, 2023. Desde 2021, as denúncias cresceram 323,29%. Os dados revelam que os grupos mais atingidos por atos de intolerância incluem a umbanda, com 151 casos, seguida pelo candomblé, que contabilizou 117. Outras religiões afetadas foram o evangelicalismo, com 88 denúncias, o catolicismo, com 53, o espiritismo, com 36, e o islamismo, que teve 6 registros. A maioria das vítimas identificadas são mulheres, totalizando 1.423.
Os dados vêm a nos indicar que a intolerância se generaliza pelo país afora.
O Jornal Brasil Popular está contatando religiosos de várias tendências para verificar esta intolerância.
RIO GRANDE DO SUL
Há um ano, em 21 de janeiro, Dia de Combate à Intolerância Religiosa, em Porto Alegre, houve uma pichação numa imagem de Mãe Oxum na Orla do Bairro Ipanema. A Polícia Civil investigou e não chegou aos autores intolerantes.
A Estátua é tombada pelo patrimônio municipal e foi pichada com palavras de cunho intolerante: “Monumento PAGÃO”! Caso foi registrado como intolerância religiosa.
A Federação das Religiões Afro Brasileiras – AFROBRAS – lançou nota para “REPUDIAR O ATO DE VANDALISMO EXTREMISTA E INTOLERANTE, atentado contra o Monumento de Oxum, na Orla de Ipanema, em Porto Alegre, local sagrado para os religiosos Afro Umbandistas do Rio Grande do Sul, estado que concentra a maior população orixaísta do Brasil”.
São Jorge, o santo guerreiro para os católicos, o orixá Ogum, para os povos de matriz africana, em sua festa tradicional na Zona Leste de Porto Alegre teve o seu primeiro incidente no ano de 2023 na hora de lavar as escadas da Igreja de igual nome, superada pela ação dos organizadores, pois um pequeno grupo de católicos radicais não aceitava que a “limpeza” fosse feita junto com pessoas que cultuam Ogum.
Sempre que falamos do tema, lembramos o caso da ialorixá Mãe Bernadete, morta com 25 tiros na Bahia, em 2023, na Bahia.
HORA DO SERMÃO
Se de um lado, a tolerância deva ser praticada como nos ensinou Voltaire em seu “Tratado sobre a Tolerância”, de outra temos que ter a HORA DO SERMÃO.
Tivemos um exemplo que ficará na História política da Humanidade o sermão da bispa Mariann Edgar Budde, da Igreja Episcopal de Washington.
Trump foi repreendido publicamente devido aos primeiros decretos que assinara. Ela pediu que ele tivesse misericórdia com os migrantes, com as crianças e com as pessoas gays, lésbicas e transgêneros, citando que estas existem “em famílias de democratas, de republicanos e independentes”. Lembrou ainda que os trabalhadores estrangeiros não são criminosos em sua grande maioria. E seguiu serena com seu puxão de orelhas, se tornando a primeira pessoa que teve coragem de enfrentar Trump publicamente.
Ele não gostou. Seu vice não gostou. As suas mulheres fizeram cara de paisagem.
Sim, é hora de outros credos se manifestarem, pois sempre começa com o “outro”, o estrangeiro, foi assim com os judeus na Alemanha nazista. E Elon Musk fez questão de mostrar a que veio junto com Trump e seus asseclas.
HORA DA CORAGEM
Doutra feita citei aqui o compositor Chico Buarque que disse que seu medo era que as pessoas não mudassem.
Só se pode mudar com contestações, e as manifestações com altivez como fizeram Ghandi e Luther King, que são bons exemplos.
O presidente Lula ao inaugurar obra em Minas Gerais, com o boicote do seu governador intolerante, foi magnânimo, mostrou sua tolerância em relação aos adversários.
Era o momento de Lula e outros dirigentes mundiais mostrarem, como em alguns momentos já fizeram o “lugar de Trump”.
O pimpão do Putin levou uma chamada e até agora lhe faltou coragem de responder.
JORNAL BRASIL POPULAR PRESENTE
Em seguida, nosso jornal vai postar em suas páginas opiniões, atos e movimentos de pessoas e instituições que estão sendo entrevistadas, aqui no Rio Grande do Sul.
(*) Por Adeli Sell, professor, escritor e bacharel em Direito.
*As opiniões dos autores de artigos não refletem, necessariamente, o pensamento do Jornal Brasil Popular, sendo de total responsabilidade do próprio autor as informações, os juízos de valor e os conceitos descritos no texto.