Pela primeira-vez, desde a queda de Mussolini, a Itália vai ter como primeira-ministra uma dirigente neofascista
Com um sistema eleitoral torcido, feito para impedir a sobrevivência dos partidos populistas e para liquidar os pequenos partidos mais à esquerda, e com uma subida, em poucos anos, dos neofascistas de 4% para 26,1%, a direita voltou ao poder em Itália, depois de várias décadas de governos de orientação austeritária e cumprindo as imposições da União Europeia e do euro.
Os resultados das eleições italianas dão 26,1% ao partido neo-fascista dos Irmãos de Itália; 19% ao Partido Democrático de centro esquerda; 15,5% aos populistas do Movimento Cinco Estrelas; 8,9% à extrema-direita xenófoba da Liga Itália; 8,3% à direita da Força Itália, de Berlusconi; 7,7% à coligação liberal de centro-direita Azione e Itália Viva, do ex-primeiro-ministro Matteo Renzi; 3,5% à coligação ecossocialista Verde mais esquerda, que junta a Esquerda Italiana com os ecologistas; 2,9% para os europeístas do Mais Europa; 1,9% para os anti-europeus do Italexit; 1,4% da União Popular, que junta a Refundação Comunista com o antigo presidente da câmara de Nápoles Luigi de Magistris e outros grupos de esquerda; e 1,1% para a Itália Soberana e Popular, que junta um dos Partidos Comunistas com outros grupos de esquerda populista.
Devida a uma lei cozinhada por Matteo Renzi, para impedir o acesso ao poder do Movimento Cinco Estrelas, o sistema eleitoral favorece os partidos que vão em coligação: existe uma parte proporcional mas outra parte dos deputados são distribuídos em círculos uninominais, o que permite que a direita com pouco mais de 40% dos votos, vá ficar com uma maioria absoluta muito confortável no senado e no parlamento.
Durante esta madrugada, a presidente do partido Irmãos de Itália (FdI), Giorgia Meloni, herdeira do partido fascista Movimento Social Italiano, declarou vitória nas eleições legislativas de domingo em Itália, reivindicando a liderança do próximo governo.
No primeiro discurso após a votação de domingo, Meloni garantiu que o partido irá governar «para todos» e «para que os italianos se possam orgulhar de ser italianos», deixando visivelmente de fora as centenas de milhares de trabalhadores e famílias de origem estrangeira que vivem e criam a riqueza no país.
«Os italianos enviaram uma mensagem clara de apoio a um governo de direita liderado» pelo FdI, disse Meloni, que deverá tornar-se a primeira mulher a liderar o executivo de Itália, à imprensa, na capital, Roma.
De acordo com resultados parciais, a coligação de direita e extrema-direita – liderada pelo FdI e que reúne ainda a Liga, de Matteo Salvini, e o partido conservador Força Italia, de Silvio Berlusconi – obteve entre 43% dos votos nas legislativas.
O bloco de centro-esquerda, liderado pelo Partido Democrático, de Enrico Letta, deverá ter 26% dos votos.
«É hora de os italianos voltarem a ter um governo que sai de uma decisão nas urnas e é algo em que todos têm que prestar contas», sublinhou Meloni.
A participação nas eleições gerais da Itália, no domingo, foi de cerca de 63,81%, abaixo dos 72,9% registados nas eleições de 2018, disse a ministra do Interior italiana, Luciana Lamorgese.
Meloni lamentou a abstenção de 36%, a mais elevada de sempre, e assegurou que o objetivo será «reconstruir a relação entre o Estado e os cidadãos».
Um século depois da Marcha de Roma, que colocou Mussolini no poder, uma sua herdeira vai ocupar o poder, numa Europa em guerra, em que os vários poderes económicos, políticos e mediáticos têm-se ocupado do branqueamento de nazis, integrando-os no jogo da alternância do poder capitalista.
Abril Abril
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