Quando, no final de novembro de 1956, Jurandi Assis foi levado pelas solidárias mãos da imortal professora ROSA MAGALHÃES para São Paulo, carregava consigo um grande sonho: desenvolver a sua arte. Confira imagens do final deste artigo.
Na capital paulista, onde chegou a trabalhar no departamento de arte da Avon, conheceu o grande pintor Oscar Costa, de quem recebeu um extraordinário apoio. Trabalhando durante o dia, JURANDI aproveitava as noites e os fins de semana para aperfeiçoar sua técnica.
Jurandi Assis, que nasceu em Santa Maria da Vitória, aos 28 de março de 1939, pouco a pouco foi ganhando espaço e se impondo no mundo das artes plásticas.
Conforme o renomado crítico de arte Jacob Klintowitz “O assunto da pintura de Jurandi Assis é a vida evidente do interior brasileiro da primeira metade do século. É rural, é interiorano, é provinciano. Mais do que tudo isso, é uma pintura que se refere a um modo simples de viver e existir. Não há dúvidas metafísicas nesta manifestação artística, mas o inventário do cotidiano. Os assuntos desta pintura são os pássaros, o carnaval, o bumba-meu-boi, o boiadeiro, a natividade, o ofício da cura, as lavadeiras, o violeiro, a maternidade, a pesca. Uma comunidade rural definida e estruturada para uma existência básica”.
Em 2000, Jurandi Assis realizou o seu grande sonho, que se constituiu na edição do livro reunindo a sua obra. “Inventário do Cotidiano”, primorosa obra, em edição bilíngue, foi lançado em 19 de setembro daquele ano na Casa da Fazenda do Morumbi, em São Paulo (capital), numa promoção da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História.
No livro Jurandi relembra sua infância na cidade natal, seu apego e vocação pela pintura. “O cais do porto de Santa Maria da Vitória era limpo e bem organizado. Era ali o local da atracação dos vapores, que traziam passageiros e cargas…
“Esse apito fazia brotar, como que por encanto, de todos os cantos da cidade, pessoas que rumavam em direção ao cais do porto… negócios a tratar… simples impulso… eu era uma destas pessoas.
A multidão ia aos poucos se dispersando e retornando à rotina de sempre, sem cinema, sem o prometido jardim da praça central, sem dentista, sem teatro, sem escola, sem esperança. Talvez imaginando que o próximo vapor pudesse preencher a falta de tanta coisa.”
“Recordo do dia em que fui apresentado a D. Rosa Oliveira Magalhães, minha primeira professora e amiga, pessoa extraordinária em todos os sentidos, ser humano de incomparável bondade…
Eu era uma criança, porém uma criança que observava, capaz de perceber um espírito superior quando frente a frente com ele. Mal sabia que meu futuro de artista estaria ligado àquela senhora de cor negra, cuja bondade e inteligência era muito fácil perceber”.
O livro de Jurandi Assis está sendo adotado nas escolas de São Paulo. Esperamos e lutaremos para que em Santa Maria da Vitória a arte do nosso grande pintor seja conhecida e admirada em todas as escolas públicas e particulares. Tem feito extraordinário sucesso. O autor já foi entrevistado por duas vezes numa emissora de televisão (Rede Mulher) e os convites para exposições de suas pinturas são constantes pelo Brasil a fora.
Seus trabalhos já atravessaram fronteiras circulando na Europa, no Japão e na gringolândia, digo, Estados Unidos.
O santa-marienses que amam a cultura e a arte se sentem honrados e orgulhosos com a exitosa trajetória do maior pintor santa-mariense.
Tive o prazer e o privilégio de revisar os livros “O arqueiro de prata” [infantojuvenil] e “A Realização de um Sonho” [autobiográfico], ambos de autoria de Jurandi, além de um sem-número de contos e crônicas.
Biblioteca Campesina, 28 março 2024.
(*) Joaquim Lisboa Neto, colunista do Jornal Brasil Popular, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.
Confira, a seguir, a obra de Jurandi Assis
A arte de Jurandi Assis no livro O Inventário do Cotidiano.