População brasileira, cada vez mais empobrecida pelo jurismo financeiro especulativo praticado pelo Banco Central Independente, a serviço dos mercados e não das atividades produtivas, vai ser estimulada, a partir da próxima semana, a gastar mais com a megasena, na doce esperança, alimentada, semanalmente, de ficar rica e poderosa.
O sorteio da mega será realizado não mais duas, mas três vezes, semanalmente, terça, quinta e sábado, em vez de quarta e sábado, como é, atualmente, até hoje, pela última vez.
Se cada pessoa fizer uma aposta mínima de R$ 5 a cada jogo passará a gastar R$ 720 ao ano, R$ 60 por mês, R$ 15 a cada 7 dias.
O orçamento individual ficará mais apertado para cada qual que não deixa de fazer sua fezinha, dominado, psicologicamente, pelo impulso da riqueza, permanentemente, almejada sob impacto de marketing obsessivo.
Arcará, toda semana, com a despesa correspondente a 1,13% do total do salário-mínimo de R$ 1320.
Certamente, essa arrecadação compulsória é fruto da necessidade do governo de arrecadar pela Caixa Econômica Federal cada vez mais para cumprir com a obrigação compulsória tirânica de pagar a mais alta taxa real de juros do mundo – Selic 13,50% – sobre títulos da dívida pública.
Essa sangria financeira é responsável por abocanhar cerca de 50% do Orçamento Geral da União (OGU), algo em torno de R$ 700 bilhões/ano.
Tal quantia corresponde a quase 5 vezes o orçamento anual do Programa Bolsa Família que o PP do presidente da Câmara, deputado Artur Lira, que abocanhar, ocupando Ministério do Desenvolvimento Social, em reforma ministerial.
Eis a estratégia da jogatina financeira em cima do endividamento público, fonte fundamental da multiplicação de lucros no capitalismo brasileiro, semiparalisado pela insuficiência de consumo, que bloqueia produção.
Repete-se tal mecanismo de endividamento em escala descendente até à vontade individual da cidadania excitada pelas possibilidades da riqueza proporcionada pela sorte.
GOVERNABILIDADE EM PERIGO
A preferência pela liquidez por parte da população, empobrecida pelo baixo crescimento do PIB, submetido ao modelo neoliberal, concentrador de renda e gerador de desigualdade social, herdado do bolsonarismo fascista, se faz, portanto, por meio do sonho; é a forma de fuga da realidade dura e cruel.
Enquanto existe a expectativa da riqueza por meio da megasena, agora, transformada em despesa mais salgada no bolso dos trabalhadores, massacrados pelo salário-mínimo, o governo vai empurrando com a barriga uma situação adversa que não consegue romper, como o fato de ser minoria parlamentar no Congresso.
No parlamento, dominado pela aliança de direita e ultradireita fascista neoliberal, que não deixa aprovar orçamento público capaz de garantir ao presidente Lula investimentos em programas sociais e em infraestrutura, a governabilidade corre perigo.
Os conservadores, que perderam a eleição, não deixam o arcabouço fiscal andar, para concretizar desenvolvimento sustentável; por isso, as expectativas econômicas necessárias não se realizam em favor da maioria.
Os parlamentares, representantes da elite beneficiária da estrutura econômica concentradora de renda, atuam propensos à sabotagem para enrolar votação do ajuste fiscal, sem o qual não será possível construir orçamento capaz de permitir governabilidade.
Nesse contexto, germina a incerteza que favorece especuladores avessos às medidas econômicas promotoras do PAC para alavancar a economia; preferem a paralisa que favorece os juros altos e a especulação financeira antidesenvolvimentista, avessa aos investimentos produtivos para impulsionar o capitalismo brasileiro.
ARRECADAÇÃO ESTAGNADA
Assim, as possibilidades de retomada do crescimento são obstaculizadas, resultando, em contrapartida, expectativas de baixa arrecadação tributária, cujas consequências levam o governo a alternativas heroicas, como a de elevar ingressos tributários por meio de manobras para levar a população às apostas crescentes no jogo de azar; isso não passa, na verdade, de sangria financeira na bolsa popular, já afetada pelo subconsumismo decorrente da insuficiência do poder de compra dos salários etc.
Assim, o que se verifica, a partir da próxima semana é o artifício de extrair mais renda do bolso da população, na tentativa forçada de levá-la a apostar três vezes na megasena, a cada sete dias; é o jeito perverso de elevar a arrecadação e ajuste fiscal neoliberal para pagar a agiotagem jurista da dívida aos bancos.
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.
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