O presidente Lula (PT) chega na metade de seu terceiro mandato diante de um cenário desafiador. Segundo a pesquisa Datafolha divulgada hoje (17), a avaliação positiva (ótimo/bom) de Lula é de 35%. A avaliação negativa (ruim/péssimo), por outro lado, atinge 34%. O índice regular registra 29%.
Os números do Datafolha convergem com o levantamento divulgado na semana passada pelo instituto IPEC, que apontou a avaliação positiva e negativa em 34%. O índice regular atingiu 29%.
De um lado, o presidente possui de uma base sólida de apoio, composta majoritariamente pelas mulheres, segmentos de baixa renda e com ensino fundamental, moradores da região Nordeste e católicos.
Por outro, o bolsonarismo, em que pese o desgaste do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), também permanece sólido em termos de apoio social. Os seguidores de Bolsonaro são compostos majoritariamente pelos homens, setores de classe média e ensino superior, renda acima de 5 salários, habitantes da região Sul e os evangélicos.
Mesmo que tenhamos um país menos radicalizado que o período 2019-2022, a polarização permanece enraizada, já que cerca de 2/3 dos brasileiros se posicionam no apoio ao lulismo e ao bolsonarismo.
Ao analisarmos a segmentação da avaliação do governo Lula por faixas de renda, a partir dos números do IPEC, constatamos que a avaliação positiva de Lula fica acima da média nacional entre os segmentos de até 1 salário mínimo (46%) e mais de 1 a 2 salários (36%). No extremo oposto, nas faixas de renda de mais de 2 a 5 salários e acima de 5 salários, a avaliação negativa atinge 40% e 46%, respectivamente, percentuais acima da média.
A análise da segmentação por renda é importante para olharmos o futuro. A população com renda mensal de mais de 2 a 5 salários deverá ter um peso decisivo, principalmente na sucessão de 2026. Hoje, essa faixa de renda pende para a oposição, já que, de acordo com o IPEC, 40% desaprovam o governo e 28% aprovam. Porém, esse segmento do eleitorado está em disputa e costuma ter um comportamento eleitoral mais pragmático que ideológico.
Não é por acaso que o governo Lula sinalizou recentemente com a proposta de isenção do imposto de renda para quem recebe até R$ 5 mil. Entretanto, tal proposta esbarra no complexo debate fiscal em curso na sociedade e no Congresso. Outro problema no campo econômico é a disparada do dólar, que ultrapassa os R$ 6 no momento em que este artigo está sendo escrito.
O elevado dólar tem relação com a deterioração das expectativas fiscais, forçando o Banco Central a elevar a taxa de juros, o que compromete o crescimento da economia e do emprego. Mais do que isso, a inflação é impactada, produzindo na opinião pública uma percepção negativa em relação à economia, mesmo que o governo celebre os números positivos de crescimento do PIB, do emprego e da redução da pobreza. Não é por acaso que, de acordo com o Datafolha, a desaprovação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), supera a aprovação: 34% a 27%.
A percepção negativa em relação a economia faz com que, após dois anos de governo, a aprovação de Lula (35%), de acordo com o Datafolha, supere apenas a registrada por FHC 2 (24%), Fernando Collor (15%), José Sarney (9%) e Michel Temer (3%) nesse mesmo período de governo.
A aprovação de Lula (35%) está numericamente abaixo da registrada por Jair Bolsonaro (37%) também nessa mesma fase de governo, apesar de ambos terem a mesma popularidade quando consideramos a margem de erro, que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Vale observar que os governos que Lula registra maior aprovação não conseguiram se reeleger ou fazer o sucessor, o que serve de alerta para o presidente. Outro aspecto a ser observado é que os 35% de aprovação de Lula mostrados pelo Datafolha estão abaixo dos índices positivos nos governos Lula 1 (45%), Lula 2 (70%) e Dilma 1 (62%).
Apesar dos desafios que Lula terá nos dois próximos anos, a popularidade do governo tem se mostrado estável. O antipetismo, segundo os dados indicados pelas últimas pesquisas, parece ter recuado. Porém, Lula ainda não vive um cenário de tranquilidade. Muito antes pelo contrário. A construção de uma agenda que não se limite à reconstrução das bandeiras históricas do lulismo ainda é um desafio.
A oposição, por sua vez, também está diante de desafios. Jair Bolsonaro está inelegível. Mesmo que a direita tenha uma série de opções para 2026, não há consenso em torno de nenhuma alternativa. Esta falta de consenso combinada com o desejo de Bolsonaro em controlar a sucessão poderá produzir divisões.
Embora a defesa da democracia seja um atributo importante para Lula, principalmente em meio ao avanço das investigações da trama golpista – o IPEC apontou que 43% dos entrevistados acreditam que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participou do planejamento de uma tentativa de golpe de Estado, enquanto 42% entendem o contrário – esse debate, ao dividir a sociedade, deverá ter um impacto político menor do que a economia, principalmente a inflação.
Controlar a inflação, sobretudo sobre os alimentos e combustíveis, passará por enfrentar o debate fiscal. Mesmo que essa discussão gera contradições na base social lulista, ela é necessária para não comprometer o projeto político liderado por Lula.
(*)Carlos Eduardo Bellini Borenstein, Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bacharel em Ciência política (ULBRA-RS). Especialista em Ciência Política (UFRGS). Tem MBA em Marketing Político (Universidade Cândido Mendes). Analista político da Arko Advice pesquisas.
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