O grande escritor socialista marxista americano, Jack London, coloca na ordem do dia o que escreveu, aos 31 anos, em 1907, em “Tacão de Ferro”, quando prega, para surpresa, até, de Leon Trotski, autor do posfácio, o que considera o termo final do confronto capitalismo x socialismo por meio da luta final entre oligopólios privado e público.
O termo final da luta ideológica entre capitalismo x socialismo, segundo ele, se dará no confronto entre o interesse público, sob comando do Estado, e o interesse privado, que se apropria do Estado para defender os seus interesses.
O interesse privado, que, historicamente, no capitalismo, desemboca-se no oligopólio privado, fruto da exacerbação do individualismo e da luta de classe, no reinado da propriedade privada, como acontece com o empresário Elon Musk, entrará em contradição com o interesse público, o que levará o Estado à mediação em favor do público x privado, para evitar a destruição da sociedade.
Necessariamente, está colocada a questão, de forma inarredável, para o Estado nacional brasileiro, na tarefa de dar o passo seguinte, que será a sua organização conforme os valores coletivos, organizados socialmente, para exercitar a comunicação em prol do interesse público, se não quiser ser levado de roldão, no tempo da comunicação dominada por redes sociais.
EXEMPLO GLOBAL
Esse choque do interesse público x privado, do oligopólio privado x oligopólio público, é lei natural do processo de desenvolvimento do modo de produção burguês, como descreveu Marx, em O Capital.
O sistema caminha inexoravelmente para acumulação de capital que leva à queda da taxa de lucro que obriga a caminhada dele rumo ao monopólio ou oligopólio, para evitar o colapso, cujo limite é a guerra.
O oligopólio privado, por sua vez, leva à deflação que requer, por sua vez, o seu contrapolo, a inflação, para sua salvação: a entrada do Estado, na economia, como salvador do capitalismo privado, do laisser faire, que, como demonstra a história, levou ao crash de 1929.
O Estado entra sistema econômico capitalista, emitindo moeda para puxar demanda privada alavancando o oposto, a inflação, mudança de modelo monetário ancorado no ouro, para introjetar moeda estatal inconversível; para evitar a enchente inflacionária, fruto do gasto público como carro chefe da demanda, o Estado lança dívida pública para enxugar o meio circulante, que, por sua vez, evita a hiperinflação.
O Estado capitalista, para garantir reprodução ampliada do capital, não mais puxada pela produção de bens duráveis, passa a gastar, com sua moeda inconversível, no lugar do setor privado, puxando não mais economia produtiva, mas destrutiva – produto bélico e espacial, bombas atômicas, mercadorias destinadas à destruição, enfim, economia de guerra.
Todo o século 20, pós crise de 1929, sustenta-se na economia de guerra e na escalada especulativa, porque a moeda estatal, ao comprar a destruição do sistema, expandindo dívida pública, produz a financeirização, câncer econômico que leva à implosão.
É o que acontece nesse momento com o mercado financeiro especulativo diante do perigo de o endividamento exponencial americano que já ultrapassou 30 trilhões de dólares.
BIDEN PEDE PINICO
Nesse contexto, Washington levanta a bandeira branca diante da China: o capitalismo liberal americano, essencialmente, anárquico, dominado pelo oligopólio privado especulativo, perde a corrida da competitividade para o capitalismo de Estado chinês, comandado pelo partido comunista, oligopólio público, cuja essência é o planejamento estatal, impulsionado por banco público.
Quem vai exercer a supremacia no resultado do confronto entre os dois polos?
O exemplo de que o capitalismo de Estado sob coordenação do partido comunista já ultrapassou o capitalismo liberal americano ficou evidente semana passada depois do encontro, via telefone, entre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da China, Xi Jinping.
Biden, dois dias depois do contato com Xi, enviou à China a Secretária de Estado americana, Janet Yellen, para negociar com os chineses uma trégua produtiva.
Yellen implorou ao vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, que a China reduza seu excesso de capacidade produtiva, para evitar a debacle da indústria americana, incapaz de concorrer com industrialização chinesa.
FLEXIBILIZAÇÃO CHINESA
No dia seguinte ao encontro Yellen-Lifeng, o governo chinês flexibilizou diante do apelo do governo americano: aceitou exercitar o “intercâmbio”.
Simbolicamente, essa trégua/intercâmbio representa nada mais nada menos que a China, nesse momento, triunfa-se comercialmente diante do capitalismo americano.
Portanto, um marco histórico.
A China vira ponto de equilíbrio para sustentação do colosso de Tio Sam que não suporta mais a deflação chinesa sobre a produção americana.
Os chineses têm que controlar suas forças produtivas para evitar a desindustrialização do império americano.
Yellen teve encontro final com primeiro-ministro da China, Li Qiang, para acertar o intercâmbio/trégua, mas teve que ouvir o incômodo de que os chineses esperam que os americanos cumpram os parâmetros do intercâmbio/trégua acertado por meio do “princípio da credibilidade”.
Chinês não acredita na palavra de Tio Sam.
NOVO FATO GLOBAL
O fato relevante, portanto, que passa a dominar a cena econômica e mundial, na qual domina a oligopolização midiática, é a ultrapassagem do capitalismo oligopolizado chinês sob comando do Estado dominado pelo partido comunista, que organiza o sistema econômico de forma planejada, sobre o capitalismo oligopolizado anárquico americano, mergulhado da financeirização econômica especulativa, desorganizado sob partido liberal em frangalhos, incapaz de disputar o mercado competitivamente.
No plano da comunicação pública, portanto, os chineses – assim como acontece, também, na Rússia, organizada sob nacionalismo militarista industrial – dá exemplo ao mundo para não deixar acontecer o que acontece no ocidente, especialmente, no Brasil, onde o oligopólio midiático, dominado pelo interesse privado de Elon Musk, ameaça a democracia e dá xeque-mate no Estado brasileiro.
Desde já, o Estado comandado por Lula, para não ser engolfado pelo interesse privado de Elon Musk, aliado do governo americano nos seus projetos de interesse público privado, precisa desenvolver o antídoto necessário: oligopólio público estatal das comunicações, em defesa do interesse público, por meio das redes sociais que suplantou, de longe, a mídia tradicional conservadora privada, que entrou em obsolescência.
Por que Lula não estatiza, sem gastar um tostão, o X de Musk, exercendo a soberania nacional ameaçada pelo oligopólio privado?
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.