Amante da literatura, do cinema, da música e do bom texto jornalístico, o profissional nasceu no Rio de Janeiro e veio para Brasília anos depois. Faleceu em decorrência da Covid-19, na quarta-feira (9/2)
O jornalista Washington Sidney de Souza, 68 anos, faleceu na tarde quarta-feira (9), de parada cardiorrespiratória decorrente de uma Covid-19, cuja contaminação ocorreu no dia 27 de janeiro. Ele havia tomado as três doses da vacina, no entanto, não foram suficientes para driblar a doença, agravada pelas graves comorbidades preexistentes.
Ela era portador de cardiopatias resultantes de uma operação de ponte safena. Tinha também pulmões comprometidos pelo enfisema e lutava contra um câncer no sistema linfático. O profissional deixa sua marca na história do jornalismo brasiliense e soteropolitano. Atuou como revisor, repórter especial, redator, editor e chefe de redação dos principais jornais do Rio de Janeiro, Brasília e Salvador e deixa saudades entre amigos e ex-companheiros de profissão nas duas cidades.
Era reconhecido pelo grande trabalho, talento e compromisso com a notícia. Amante do futebol, do samba, da Música Popular Brasileira (MPB), do cinema e da boa literatura, ele foi casado com a também jornalista Carla Lisboa, a advogada Sandra Gregorio, com quem teve duas filhas, e com a turismóloga Maria Luiza Freitas.
Havia se mudado, recentemente, para Santa Catarina. Pouco mais de 30 dias depois da mudança, foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Gaspar, uma localidade a 20 quilômetros de Brusque, onde residia com as duas filhas, netos e genros.
A jornalista Cristina Campos, 53 anos, e amiga dele, disse ao Correio Braziliense que o pai dela, o cardiologista e conselheiro do Jornal Brasil Popular, Geniberto Campos, era médico de Washington e que, mesmo sabendo da gravidade da situação e da possibilidade do óbito, a morte do amigo os pegou de surpresa.
Ainda abalada com a notícia, Cristina contou ao Correio que conheceu o profissional por meio de Carla Lisboa, sua colega de curso de jornalismo na Universidade de Brasília (UnB). “Mas também trabalhamos juntos na Redação do Correio e, desde então, nos tornamos companheiros de trabalho e de vida”, contou.
“A gente se conheceu na época da reforma editorial do jornal, no momento da informatização, nos anos 1990. Quando o Washington chegava na Redação, todo mundo parava para escutar as piadas dele. Ele perdia o amigo, mas não perdia a piada. Mas, na hora do trabalho, ele se concentrava e tinha uma visão de jornalismo diferenciada”, afirmou.
“Ele era um homem de opinião forte, mas cabeça aberta. Adorava a editoria de esportes, mas transitava com muita competência por todas as outras: ele dava conta de tudo. Washington virou amigo do meu pai, que, inclusive, lamentou muito e está triste. Foi uma pessoa que valeu a pena conviver e que vou levar no meu coração”, declarou Cristina.
Homenagem
Confira, a seguir, o texto que a jornalista Carla Lisboa escreveu em homenagem ao ex-marido com exclusividade ao Correio.
“Washington Sidney de Souza tinha 68 anos. Ele faleceu após ficar 4 dias entubado por causa de uma Covid-19 que já vinha infernizando a vida dele há alguns dias. Não haverá velório. Apenas uma despedida às 14h, no Cemitério Parque da Saudade, em Brusque, com caixão lacrado por causa da Covid-19. Ele se mudou em dezembro de 2021 para Santa Catarina e saiu de Brasília dizendo que iria para o Sul “viver o resto da vida dele feliz com as duas filhas, os netos e os genros”.
Nascido no Rio de Janeiro, ele trabalhou em quase todos os jornais cariocas. Ele contava que seu primeiro emprego foi de revisor, no Jornal do Brasil: “Naquela época, a gente entrava para a Redação de duas formas: ou pela Revisão ou pela Editoria de Polícia. Eu entrei pela Revisão”. Na ditadura militar, quando atuava na Revisão do JB, considerado um dos maiores jornais do País, ele observava os jornalistas famosos da época, como, por exemplo, Fernando Gabeira.
Washington era sobrinho da atriz Nancy Wanderley, primeira esposa do grande humorista Chico Anísio, e primo carnal do artista e humorista Lug de Paula. Dos três irmãos, somente Ana Paula, sua irmã mais nova, faleceu de covid-19 exatamente 6 meses atrás. Excelente pai das únicas duas filhas, Débora Gregório de Souza Piano e Simone Gregório de Souza Carvalho, ambas advogadas, o que o orgulhava muito, ao fazer sua passagem, deixou três netos, um, filho de Débora, e, dois, filhos de Simone. E os genros, respectivamente, Alexandre Piano e Pedro Henrique Jotta de Carvalho Bezerra. As filhas são resultado do primeiro casamento. Um longo relacionamento com Sandra Gregório Nóbrega, uma advogada. Aliás, seus casamentos foram duradouros. Depois de Sandra, viveu longos anos com Maria Luiza Pires Freitas, uma turismóloga. Seu último relacionamento, com quem também viveu mais de 15 anos, foi com a jornalista Carla Lisboa.
Contudo, o casamento perfeito foi com o jornalismo. Apaixonado pela profissão, também era um exímio contador de casos e de piadas. Sobrinho de artistas, em suas veias também circulava a verve da interpretação: bastava vê-lo contando uma piada. Não havia quem não morresse de rir. Era escritor e personagem de suas próprias histórias. Encantado pela escrita correta e dedicado a transformar um simples fato em matéria e, ao mesmo tempo, em grandes textos literários. Tinha na ponta da língua a palavra certa para cada coisa.
Um dicionário de jornalismo. Um professor generoso. Ele tinha um olho de águia para detectar uma notícia, apontar uma manchete, escrever um lide. Fazia títulos como Garrincha fazia gols: na brincadeira e do tamanho que o diagramador determinasse. Ele tinha uma sensibilidade a mais para titular. E dizia que o objetivo de todo jornalista era “levar o leitor no colo”. “Na hora de escrever a matéria, você tem de fazer o leitor entrar na cena, visualizar o fato e viver todas as emoções. Para isso, tem de usar a palavra certa na hora certa”, ensinava.
O Rio ficou pequeno para tanta criatividade. Além disso, não bastava ler os romances, era preciso conhecer o País para poder aprofundar seu conhecimento e dar vida, nas matérias, às mazelas dos governos. Quando conheceu a baiana Maria Luiza e se casaram e foram para as terras de Jorge Amado, autor que admirava. E foi ali que ele conquistou seu lugar no jornalismo, a oportunidade que sua terra natal lhe negou sucessivamente.
Em Feira de Santana e em Salvador, sua carreira deslanchou. Atuou em todas as editorias de todos os jornais e ganhou vários prêmios. Fez grandes amizades que conservou até hoje como se guardam os melhores vinhos. Todas as memórias da Bahia são hilárias porque por onde ele passou, fez revoluções, subverteu a ordem e deixou muito ensinamento.
Ele assinava “Sidney de Souza” (em homenagem a seu grande ídolo, o seu próprio pai). E quem conviveu com ele afirma que aprendeu todo dia muita coisa. Um intelectual disfarçado de repórter. Conhecedor profundo de futebol, carteado e outros esportes, era um flamenguista doente. Um dia, quando ainda vivia em Salvador, descobriu que já era um craque e tempo certo para alçar novos voos. Resolveu mudar para Brasília, afinal, era na capital do País que ele planejava transformar o jornalismo em fonte de renda.
Mudou-se para o Distrito Federal em 1989 e aqui viveu 33 anos. “No dia que eu cheguei em Brasília, as Redações estavam em greve e eu não sabia. Levei meu currículo ao Correio Braziliense e eu fui chamado para começar na reportagem no dia seguinte. Trinta dias depois fui elevado em repórter especial”, contava satisfeito. Fez grandes amizades ali. Um deles, Levi Pereira, que já faleceu há muitos anos.
Foi escrevendo matérias para o Correio Braziliense que ele também deslanchou no Distrito Federal, trabalhou em vários jornais e ganhou outros prêmios. Um deles lhe rendeu uma viagem a Miami. Daí só cresceu na profissão e amadureceu o texto. Como quase todo virginiano, era perfeccionista. Os amigos diziam que ele era tão perfeccionista na edição que editava até o prato de comida. Era tudo desenhado. O jornalismo era o sangue que circulava nas suas artérias.
Washington era destemido e gostava de música. Estudou partitura e sabia tocar violão e cavaquinho. Sempre declarava que não tinha medo de morrer. Mas não dava mole para o azar. Evitava adoecer. Cuidava da saúde todo dia. Fez de tudo para não pegar a Covid-19. Ele sabia que tinha comorbidades violentas, capazes de fazer suas três doses de vacina não valerem nada perante o coronavírus.
No entanto, tudo o que fez não foi suficiente. A doença, que se não fosse a politização, já poderia estar banida do planeta, o abateu. Na tarde desta quarta-feira (9), uma parada cardíaca retirou o eterno repórter, o cronista do dia a dia, Washington Sidney de Souza, de cena. Nesta quarta, o jornalismo do Distrito Federal ficou muito mais pobre ao perder Sidney de Souza, uma eminência e sua excelência: o repórter”.
Texto publicado, com exclusividade e originalmente, no .
(*) Por Rafaela Martins com edição do Jornal Brasil Popular
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