Da comunidade do Pé Preto (ou Morro do Pé Preto) à Pituba, bairro de classe média-alta de Salvador, pode se ir em menos de 10 minutos de caminhada. Se a distância geográfica é bem pequena, a realidade dos dois locais é bastante desigual. Localizado no bairro do Nordeste de Amaralina, o Pé Preto foi habitado recentemente. Boa parte da comunidade existe há menos de 12 anos, ou seja, irá passar pelo seu primeiro Censo Demográfico em 2022.
O domicílio da moradora Luzia Maria é um exemplo das condições do local. Feitas de compensado de madeira, e com apenas dois cômodos, as paredes do fundo da casa estão cedendo e, pelo buraco, já entraram animais como sapos e cobras, oriundos do matagal próximo. Com as torneiras secas, Luzia contou que precisa pegar água no tanque de uma vizinha, que disponibiliza ocasionalmente à comunidade, ou em uma fonte próxima: “Já passei mal carregando”, diz.
Além de não contar com iluminação pública, ela teme as chuvas fortes que poderiam causar um deslizamento no morro que fica acima da comunidade. “As pessoas vão morar em uma área de risco porque não têm para onde ir”, desabafa.
O Pé Preto está em uma das 247 regiões de aglomerados subnormais catalogadas pela Base Territorial do IBGE na capital baiana. Os aglomerados são formas de ocupação irregular de terrenos de propriedade alheia (públicos ou privados) para fins de habitação em áreas urbanas e, em geral, caracterizados por um padrão urbanístico irregular, carência de serviços públicos essenciais e localização em áreas restritas à ocupação. Conhecidos como favelas e assemelhados, os aglomerados subnormais estão presentes em 33 municípios baianos. Quase metade (46,8%) das 586 localidades do estado estão em Salvador.
Coordenador da Base Territorial do IBGE na Bahia, Leonardo Afonso explica como esses lugares foram catalogados: “Primeiro, nós recebemos da Coordenação de Geografia áreas que possivelmente seriam consideradas como subnormais. Depois disso, tivemos reuniões com as prefeituras, nas quais as áreas foram identificadas e solicitamos o preenchimento da Ficha de Informações Territoriais. Em seguida, fizemos a classificação dos setores correlacionando com essas áreas pré-identificadas”, conta.
Ainda segundo o coordenador, as reuniões com as prefeituras foram organizadas pela Supervisão da Base Territorial em Salvador e no município vizinho de Lauro de Freitas, e pelas agências do IBGE quando ocorreram no interior do estado.
Como, em muitos desses locais, existem restrições de acesso e segurança para a equipe do IBGE, a Coordenação de Geografia, em parceria com a Coordenação Operacional do Censo 2022 e demais áreas do IBGE, elaborou um material com orientações para recenseadores em aglomerados subnormais. Nele, há dicas para que o trabalho seja realizado com qualidade e segurança. Os recenseadores são orientados a buscar diálogos com lideranças comunitárias antes da coleta das informações e procurar o apoio de agentes de saúde da família que atuem na região. Além disso, são instruídos sobre como percorrer os setores da forma mais correta possível, mesmo com o arruamento irregular que costuma haver nesses locais.
Estratégias do recenseamento na comunidade do Pé Preto
Recenseadora na comunidade do Pé Preto, Mariana Santos explica as estratégias que adotou para mitigar os possíveis riscos de trabalhar em um aglomerado: “Eu fui antes para ver como era o setor. Lá, eu esclareci às pessoas sobre o que era o Censo e perguntei para elas como eu poderia fazer o trabalho”, relatou.
“Um desafio foi explicar aos moradores sobre a importância da pesquisa, porque eles não acham que impacta diretamente a vida deles. Por mais que a gente veja o Censo como algo necessário, às vezes, eles não veem da mesma forma, porque não traz benefícios imediatos”, completa Mariana.
A professora Gláucia Cavalcante é a Agente Censitária Municipal (ACM) responsável pelo posto de coleta onde Mariana trabalha. Nascida e criada no Nordeste de Amaralina, onde mora até hoje, ela acredita que o trabalho em um aglomerado é bastante facilitado quando o recenseador também é morador do local.
Ela relata que começou a preparar o terreno para a coleta nas comunidades que fazem parte da área do seu posto antes do início do Censo, na época da Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios: “Minha família é Batista, e eu tenho amizades de infância que estão na Igreja e conseguem entrar em vários locais, além de conhecer diversos pastores. Isso ajudou para que a gente pudesse ir a áreas de maior tensão, por exemplo”, explica.
“A partir disso, a gente foi conversando com as pessoas. Às vezes, nós passávamos por um grupo de amigos conversando, e a gente parava, entregava um folheto e explicava o trabalho que iríamos fazer. E a partir disso, os moradores mesmos começavam a espalhar a notícia”, completa Gláucia.
Segundo ela, existem dificuldades específicas para realizar o Censo em aglomerados, como o alto número de recusas, causadas pelo desconhecimento da operação ou pelo medo de passar informações pessoais. Além disso, existem algumas tensões existentes por conta de poderes paralelos: “Em alguns locais, você sabe que está sendo observado o tempo inteiro, e aí tem que ter jogo de cintura para poder conversar com algumas pessoas”, disse.
Porém, ao ser perguntada se é possível realizar um bom Censo Demográfico nesses locais, Gláucia fala com convicção: “Com certeza. Apesar das dificuldades, o trabalho anda mais facilmente quando se tem uma equipe integrada”.
Mas afinal, o que são aglomerados subnormais?
Em 1953, o IBGE divulgou o estudo “As Favelas do Distrito Federal e o Censo Demográfico de 1950”, em que se debruçava pela 1ª vez sobre ocupações irregulares de terrenos de propriedade alheia, sejam públicos ou privados, para habitação urbana, com padrão urbanístico irregular e carência de serviços públicos.
Clique aqui e saiba mais sobre os “aglomerados subnormais”.
Com informações da Agência IBGE e edição do Jornal Brasil Popular
Foto da capa: Morro do pé Preto. É assim que se chama a localidade que, apesar de estar dentro do Nordeste de Amaralina. Foto: NES
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