Duas situações envolvendo o DEM no plano nacional podem ter forte repercussão no cenário político maranhense. Primeira: o deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), hoje o nome de maior visibilidade do partido, informou a aliados próximos que deixará a legenda, alegando que foi traído pelo comando partidário na guerra pela sua sucessão na presidência da Câmara Federal, podendo vir a se filiar ao PSL ou ao Cidadania.
Segunda: o presidente nacional do DEM, o baiano ACM Neto, avisou que caminha para apoiar o projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no ano que vem.
A eventual saída de Rodrigo Maia será uma pancada na estatura do DEM, podendo enfraquecer o deputado federal Juscelino Filho, que preside a legenda no Maranhão, e se ele migrar para o Cidadania, a senadora Eliziane Gama ganha mais peso com o fortalecimento do seu partido. E a hipótese de o DEM vir a se aliar a Jair Bolsonaro em 22 coloca o PDT, hoje o seu principal aliado, numa saia justa, principalmente no Maranhão.
Rodrigo Maia não se conforma por ter sido traído por ACM Neto às vésperas da eleição na Câmara Federal, quando, com a ajuda do deputado Juscelino Filho – muito prestigiado na sua presidência -, abandonou a candidatura do deputado Baleia Rossi (SP). Oficialmente, anunciou “neutralidade”, mas na verdade orientou os deputados do DEM a migrarem de mala e cuia para a candidatura de Arthur Lira (PP-AL), o que liquidou as chances de Baleia Rossi.
Diante disso, Rodrigo Maia anunciou que não fica no partido e deve anunciar seu desligamento do DEM na semana que vem. Sondado sobre para onde vai, o ex-presidente da Câmara Federal, que é um político da direita esclarecida, levantou duas hipóteses: o PSL, fortalecendo a banda que rompeu com o bolsonarismo, ou o Cidadania, que há muito perdeu seu viés esquerdista e hoje é visto como um partido de centro.
Oito entre dez analistas políticos dizem que a estratégia de ACM Neto de tirar o DEM do bloco de apoio a Baleia Rossi garantiu a vitória de Arthur Lira e agradou ao Palácio do Planalto, mas em compensação estilhaçou o partido, que vinha se transformando numa força a ser levada em conta, inclusive no jogo sucessório, com a possível candidatura do deputado federal e ex-ministro da Saúde Henrique Mandeta a presidente da República.
A saída de Rodrigo Maia, que levará com ele dezenas de políticos, entre eles vários deputados federais, fragilizará fortemente a musculatura do DEM, inclusive no Maranhão, onde o deputado federal Juscelino Filho dá as cartas, mas pode perder o apoio de alguns quadros do partido. Em outro plano, se Rodrigo Maia ingressar no Cidadania e reforçar o partido como alguns preveem, a senadora Eliziane Gama terá turbinado seu espaço no tabuleiro estadual.
O aviso de ACM Neto de que, além de perder Rodrigo Maia, o DEM poderá apoiar o projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro, pode ter efeito bombástico na aliança nacional do partido com o PDT, o que produzirá forte impacto no projeto do senador Weverton Rocha de disputar o Palácio dos Leões. Isso porque, se ACM Neto, de olho no Governo da Bahia no ano que vem e no Palácio do Planalto em 2026, empurrar o DEM para o colo de Jair Bolsonaro, colocará o PDT numa tremenda saia justa, podendo fragilizar o hoje bem delineado e viável projeto de poder do senador pedetista.
Evidente que são possibilidades, mas o que se viu na eleição para presidente da Câmara Federal, quando menos de 48 horas antes o comando nacional do DEM anunciou “neutralidade” – muito parecida com a “neutralidade que o PDT assumiu no 2º turno da guerra pela prefeitura de São Luís –, dá para suspeitar que o DEM entrou numa ciranda sem norte. Nesse ambiente, o senador Weverton Rocha terá de mergulhar na cautela e montar um “plano b” no que respeita a alianças preferenciais.
Aguarda-se, portanto, o desembarque de Rodrigo Maia do DEM, o rumo que ele tomará e os desdobramentos desse movimento.