Objetivo da CPI é investigar ações e omissões do governo estadual que levaram Mato Grosso a ter a maior mortalidade por covid-19 do país
O deputado estadual e médico sanitarista Lúdio Cabral (PT) apresentou requerimento para abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar por que Mato Grosso é o estado com maior mortalidade por covid-19 no país. Mato Grosso tem 369 mortes por covid a cada 100 mil habitantes, segundo dados do painel epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde desta quarta-feira (11). Lúdio começou a coletar assinaturas e já tem apoio de outros três deputados: Valdir Barranco (PT), João Batista (PROS) e Delegado Claudinei (PSL). Para instalar uma CPI, são necessárias assinaturas de oito deputados, o equivalente a um terço da Assembleia Legislativa.
“O objetivo dessa CPI é investigar as ações e omissões do Estado de Mato Grosso no enfrentamento da pandemia que nos fizeram ser o primeiro estado em mortalidade por covid-19. No início da pandemia, o governo estadual dizia que o coronavírus não provocaria grande impacto em Mato Grosso por causa do calor, da população pequena e da baixa densidade populacional. Por que, depois de 16 meses, Mato Grosso é o estado em que mais pessoas morreram proporcionalmente por covid-19?”, disse Lúdio.
Médico sanitarista, Lúdio observou que Mato Grosso atingiu um platô elevado de 1,2 mil casos novos de covid por dia em janeiro deste ano e desde então se manteve nesse patamar alto, com piora da situação em março e abril, quando houve colapso total do sistema de saúde. Desde o início da pandemia, em março de 2020, Lúdio vem acompanhando a evolução da covid-19 em Mato Grosso como médico sanitarista, e fez diversas recomendações ao governador e autoridades sanitárias sobre as medidas que deveriam ser tomadas para conter a transmissão e organizar o sistema de saúde, por meio de ofícios, requerimentos e projetos de decreto legislativo.
Porém, o governador Mauro Mendes (DEM), que é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), adotou uma linha de negacionismo oficial bastante semelhante ao governo federal, e adotou medidas tardias e insuficientes no combate ao coronavírus. Lúdio Cabral citou como exemplo a flexibilização das medidas de isolamento social de forma precipitada e o retorno das aulas presenciais na rede estadual de ensino antes da imunização completa dos trabalhadores da Educação, com a circulação da variante delta que escapa à imunidade da 1ª dose de vacina, sem adequação da estrutura física das escolas e sem fornecimento de máscaras PFF2.
“De precipitação em precipitação, de erro em erro, de medidas que deveriam ser tomadas e não foram tomadas, de omissão em omissão, de ação em ação, nós chegamos nesse cenário tão triste para nosso Estado que é ser o primeiro em mortalidade por covid. Precisamos de resposta de por que chegamos a esse ponto e é isso que nós queremos buscar. Com a CPI, poderemos ter acesso a banco de dados e informações que hoje não temos”, explicou Lúdio.
“Da mesma forma que a CPI da Pandemia no Senado, a partir de um fato determinado, abriu um leque de investigação, temos que abrir um leque aqui também. A partir do fato determinado, de descobrir por que Mato Grosso é pior estado do país em mortalidade por covid-19, iremos investigar omissão de medidas sanitárias que deveriam ser tomadas no momento certo na forma certa, mobilização inadequada do sistema de saúde para enfrentar a covid, adoção de medidas e ações ineficazes para esse enfrentamento, lentidão na vacinação, taxa de mortalidade nas UTIs do estado, gestão de recursos públicos e fatos noticiados recentemente envolvendo negociação de vacina”, completou Lúdio.
A possível negociação de vacinas com sobrepreço veio à tona em reportagem da TV Centro América (afiliada da Rede Globo) na semana passada, que exibiu e-mails e conversas de WhatsApp obtidas pela CPI da Pandemia no Senado com a apreensão do celular de Luiz Paulo Dominguetti. As mensagens de Dominguetti citam a intenção de vender cada dose de vacina ao Estado de Mato Grosso por 14 dólares e pagar “comissão” de 1 dólar aos compradores e 1 dólar aos intermediários da venda da vacina.