Levantamento da ONU Mulheres alerta para avanço da direita e do extremismo após ano eleitoral; equidade de gênero reduziu em 60%
Um estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU Mulheres) revelou dados preocupantes sobre a participação feminina na política global, mostrando que a subrepresentação persiste nas esferas de poder mesmo após um ano marcado por eleições ao redor do mundo. De acordo com a pesquisa, as mulheres ocupam apenas 27% das cadeiras parlamentares nos países, quantidade muito inferior à meta de equidade de gênero da própria organização.
A análise, que abrange informações de 39 países com histórico de dados sobre o tema, revela que, em apenas 15 desses países, houve avanço no número de mulheres eleitas para cargos legislativos. Por outro lado, 24 nações registraram uma diminuição na presença feminina nos parlamentos.
Para Sima Sami Bahous, diretora-executiva da ONU Mulheres, o mega ano eleitoral mostrou que “a liderança política das mulheres continua sendo a exceção e não a regra”
Nos 63 países que realizaram eleições nacionais, a direita foi vitoriosa em 27 nações, enquanto a esquerda prevaleceu em 25. Além das cinco vitórias do centro, seis países escolheram partidos ou candidatos independentes, sem uma afiliação definida a qualquer espectro político.
Em 2024, nas mais de 30 eleições presidenciais, apenas cinco resultaram na eleição de mulheres para a presidência – Islândia, Moldávia, México, Namíbia e Macedônia do Norte. Destes, três marcaram a primeira vez que uma mulher foi eleita chefe de Estado.
É mito que país com bom indicador econômico garante equidade de gênero
Até agora, 87 países ao redor do mundo foram governados por mulheres, representando menos da metade dos 193 países reconhecidos pela ONU. Embora o nível econômico de um país seja frequentemente associado ao seu desenvolvimento, ele não garante por si só igualdade de gênero no campo político.
Segundo a ONU, Ruanda lidera o ranking de representatividade feminina no parlamento, com 61% de suas cadeiras ocupadas por mulheres. Cuba e Nicarágua vêm em segundo e terceiro lugares, com 56% e 54%, respectivamente. Nos Estados Unidos, Donald Trump foi reeleito no ano passado com discursos misóginos contra Kamala Harris, que poderia ter sido a primeira presidenta negra do país.
No Brasil
Na Câmara dos Deputados em Brasília, as mulheres ocupam apenas 17,7% das cadeiras, um aumento em relação aos 15% registrados entre 2019 e 2022. No Senado, a representatividade feminina chega a 18,8%, atingindo um marco histórico. É importante destacar que, até 2016, as senadoras brasileiras não possuíam um banheiro feminino no plenário, evidenciando as carências estruturais e a desigualdade histórica no Congresso Nacional.
Em 2023, deputadas lideraram 40% das propostas aprovadas no plenário, um marco para a representatividade feminina na Câmara, que compõe apenas 18% dos membros (91 de 513).
No entanto, a “pauta feminina” ainda domina os relatórios, com quase metade das propostas voltadas para inclusão e proteção de meninas e mulheres. O objetivo também deveria ser a ampliação da participação das mulheres em temas gerais e mais abrangentes, como economia e administração pública. As parlamentares hoje são minoria na abordagem desses assuntos.
A Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados é a responsável pela realização do levantamento que mostrou que dos 182 relatórios, 76 foram feitos por mulheres, e 48% (37) estavam diretamente ligados somente a temas de gênero. Projetos com relatorias de mulheres aprovados nesses colegiados corresponderam a 12,6% do total. Dos 5.473 projetos aprovados nos 30 colegiados temáticos da Casa, apenas 692, feitos por mulheres, foram aprovados.
Só 13% das prefeituras estão sendo lideradas por mulheres
A distribuição demográfica do Brasil não foi refletida pela predominância de homens brancos entre os candidatos do segundo turno nestas eleições. Embora esse grupo fosse 65% dos postulantes, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a representação na população brasileira era de apenas cerca de 25%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou seja, é como se as minorias praticamente não tivessem o espaço.
Na análise de raça e gênero em um cruzamento de dados feito pela Fórum em outubro de 2024, dos 102 candidatos que avançaram para a segunda etapa do pleito de 2024, 67 eram homens brancos, com idades variando entre 25 e 80 anos. Nas 15 capitais onde ia ocorrer o segundo turno, os homens brancos dominaram a disputa e representaram 60% dos candidatos. No primeiro turno, todos os 11 prefeitos eleitos nessas capitais foram homens, sendo nove brancos e dois pardos. Das 734 mulheres eleitas, só duas foram em capitais.