Fornecimento de petróleo para Forças Armadas de Israel pode ser enquadrado em cumplicidade com genocídio
Matéria exclusiva publicada nesta quinta-feira pelo jornal britânico The Guardian revela que petróleo brasileiro estaria sendo enviado para Israel e abastecendo as Forças Armadas empregadas no ataque a Gaza. O fornecimento pode trazer problemas, já que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) abriu investigações sobre prática de genocídio por parte dos israelenses contra os palestinos.
O levantamento foi encomendado pela organização sem fins lucrativos Oil Change International. “Dois carregamentos de petróleo brasileiro, totalizando 260kt [quilotoneladas], parecem ter sido entregues a Israel desde o início da invasão de Gaza”, informa o jornal britânico.
“O primeiro petroleiro parece ter atracado e descarregado a sua carga num terminal de oleodutos a sul de Ashkelon que abastece as refinarias [israelenses] de Haifa e Ashdod em dezembro, o segundo em fevereiro de 2024, de acordo com dados de sinalização e imagens de satélite. O petróleo foi fornecido a partir de campos offshore de propriedade conjunta da Shell, TotalEnergies e Petrobras”, de acordo com as investigações.
Segundo The Guardian, Total e Shell não quiseram comentar. Um porta-voz da Petrobras disse que a estatal não “entregou nenhuma carga de petróleo bruto de sua produção a Israel em dezembro de 2023 e em 2024”.
Os dados da Oil Change International mostram que EUA, Azerbaijão, Cazaquistão, Rússia e Gabão também estiveram entre os fornecedores. As empresas petrolíferas BP, Chevron, ExxonMobil, Shell e TotalEnergies teriam facilitado o fornecimento de combustível.
“Israel depende do petróleo bruto e de produtos refinados do exterior para operar a sua grande frota de aviões de combate, tanques e outros veículos militares”, informa o jornal.
Em 26 de janeiro, a CIJ ordenou de forma preliminar que Israel evitasse qualquer ato genocida e tomasse ações para impedir o genocídio, o que não foi cumprido. A decisão tem implicações jurídicas para países e empresas, que devem garantir que não sejam cúmplices de atos genocidas, segundo especialistas em direitos humanos ouvidos pelo The Guardian. Eles avaliam que países e empresas que fornecem petróleo às Forças Armadas de Israel podem ser cúmplices de crimes de guerra e genocídio.
Com exceção do combustível de aviação enviado pelos EUA, praticamente todos os outros envios de produtos petrolíferos refinados para Israel secaram desde outubro de 2023, talvez refletindo a crise mais ampla do Mar Vermelho, especula o jornal britânico. O fornecimento de petróleo bruto a Israel manteve-se mais ou menos estável, com excepção de uma queda em janeiro.