Vai finalmente começar em Nova York o julgamento de Donald Trump pelos crimes de que é acusado na tortuosa operação em que muito dinheiro foi movimentado para que a atriz de filmes pornô Stormy Daniels nada revelasse, durante a campanha presidencial de 2016, sobre um caso ou aventura sexual com Trump quando ele já era casado com sua mulher Melania..
Foi nessa eleição que Trump chegou à Presidência e é duvidoso que eventuais revelações de Stormy Daniels tivessm provocado sua derrota.
A América conservadora estava cansada da novidade de seu primeiro Presidente negro, Barack Obama, e suas tímidas iniciativas progressistas, embora compensadas por episódios como o não-cumprimento da promessa de fechar a prisão de Guantánamo, em território cubano ocupado pelos Estados Unidos.
Da mesma forma, a América conservadora está hoje mais a fim de eleger Trump que de reeleger o Presidente Biden, apesar do muito que pesa de acusações contra Trump – e nisso o caso de Stormy Daniels é fichinha diante da tentativa de golpe de janeiro de 2021, para impedir a posse de Biden e Trump continuar no poder sem ter sido reeleito.
Os donos do poder econômico privado nos Estados Unidos e outros países mundo, inclusive o Brasil, apostam tanto nda hipótese da volta de Trump que parecem acreditar que ou vai ser isso ou vamos para a crise final do capitalismo e para o domínio do mundo pelo comunismo ateu e aborteiro.
Deve enquadrar-se nisso o surto de fúria de Elon Musk contra o Ministro Alexandre de Morais, do Supremo, e a “ditadura brasileira” que ele denunciou com o aval do fugitivo Allan dos Santos e do menino mimado Nikolas Ferreira.
Essa ofensiva, que parecia tomar todo o tempo e todas as energias do super-ativo Musk teve uma rápida interrupção, como se Musk tivesse de se voltar inteira e exclusivamente para a salvação de alguma outra parte do mundo. Mas logo foi retomada, em outra escala, pela introdução de novo personagem no cenário, Javier Milei, o Presidente a Argentina, que foi ao encontro de Msk numa fábrica da Tesla nos Estados Unidos, para dar-lhe apoio na luta com a Justiça brasileira.
Tudo isso pode ter sido uma espécie de teste para Musk saber até onde chega seu poder de mandar e desmandar no Brasil e de interferir na próxima eleição presidencial nos Estados Unidos.
Por trás de sua fachada de senhor absoluto de seus atos, Musk pode estar sendo usado como instrumento da cada vez mais organizada e eficiente rede planetária de governos e movimentos de extrema-direita – o que é cabalmente confirmado pela oportuna e solícita visita de Milei.
Foi por iniciativa própria ou por inspiração alheia, por exemplo, que aconteceu a visita de Milei e que Musk se entregou em tempo integral à campanha contra Alexandre de Morais e contra a tal “ditadura brasileira”?
A segunda parte dessa pergunta suscita outra pergunta: foi do próprio Musk a ideia de comprar por bilhões de dólares o controle acionário do ex-Twitter? Ou esse arriscado negócio foi sugerido a ele como uma boa oportunidade de no futuro, com a volta de Trump, ganhar muito mais dinheiro do que gastou com ela?
Na indiscutível existência de uma aliança de interesses entre Musk e Trump , fica impossível, finalmente, saber o que será pior, se Musk fazer as vontades de Trump ou Trump fazer as de Musk.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor, é colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna semanal “De olho no mundo”. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.