Você que nos lê nos rincões do Brasil, quiçá nosso Jornal Brasil Popular alcance o mundo, cá falando do Sul. Estamos encharcados em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul.
Muitos olhos estão voltados para o infortúnio climático que estamos vivendo, com fortes chuvas, enchentes, alagamentos e deslizamentos.
Porto Alegre tem apenas 252 anos. Uma cidade nova, com 1.332.570 habitantes. Em 12 anos perdemos 76.781 habitantes.
Por que razões? O governo do Estado como o prefeito silenciaram diante destes dados.
Porto Alegre e o Rio Grande do Sul por anos e anos estavam atrás de São Paulo e Rio de Janeiro tanto em habitantes quanto em riqueza e desenvolvimento.
A perda de fábricas para a Região Metropolitana tem até razões. Mas perder habitantes, sendo uma cidade de alto nível de vida, com a maior população de idosos das capitais tem que ser devidamente analisado.
Não tem políticas públicas para a população 60+. Tem cultura de sobra para os mesmos de sempre. Mas se tornou uma cidade hostil para pessoas idosas, para PCDs. Os governos viraram as costas a estes e aos pobres. Constrói para os ricos, levantam arranha-céus e estocam metros e metros quadrados e CUBs para grandes especulações.
A nossa Belle Èpoche ficou nos anos 1940 para trás. Em 1970 acabamos com os bondes. Os ônibus em 1990 caíam aos pedaços, e seus donos eram os tubarões da vez.
Só o futebol entre Grêmio e Internacional continuou sendo o mesmo. Uma rivalidade que começou sadia para se tornar doentia com brigas e quebradeiras. Perdemos o Força e Luz, o Renner e o Cruzeiro. Só restou-nos torcer pelo Zéquinha na terceira divisão.
Ganhamos facções nos presídios, tão ou mais violentas que as do Rio e São Paulo.
Continuamos a cultivar e cultuar tradições, mitos e lendas.
E de cidade mais politizada do Brasil, com seus Fóruns Sociais Mundiais, com as decisões pelas plenárias do Orçamento Participativo, viramos um centro de bolsonaristas, com setores extremistas no III Comando do Exército, o mesmo que no passado defendia Leonel Brizola. Porto Alegre mudou. E para pior.
Estamos no Rio Grande do Sul entre os que mais praticam a Escravidão Contemporânea. De cidade com a primeira Secretaria de Meio Ambiente temos uma legislação permissiva para fazer, pintar e bordar para cortar árvores e construir como as construtoras querem.
Estado de tradição moral e ética na política e na gestão, viramos um espaço de graves denúncias de corrupção.
De um sistema de proteção às cheias de primeiro mundo, por não zelar pelas casas de bomba, comportas e diques, estamos sendo levados à desgraça pelas águas sujas das intempéries.
Temos bairros devastados, uma economia em farrapos, um povo triste, longe de suas bravatas em campos de batalha.
Aqui, começou a se revelar um negacionismo ambiental total, com acordos que só os grandes ganham, logo a Natureza veio cobrar sua conta.
Hoje, choramos uma Porto Alegre triste, desolada, com um povo desalojado, só não sucumbimos pelas ajudas que vem de todos os lados.
Não estamos sós porque ainda tem laivos de Humanidade no horizonte, ainda turvado com chuvas torrenciais, esperando que, em breve, possamos falar mais uma vez do mais bonito pôr do sol do mundo.
(*) Por Adeli Sell, professor, escritor, bacharel em Direito e vereador do PT em Porto Alegre.