A CPI da Covid-19 pode ser instalada nesta terça-feira (27) no Senado. Cotado para ser relator na Comissão de Inquérito, Renan Calheiros (MDB-AL) concedeu entrevista ao jornal Brasil Popular
Com o intuito de se defender no Senado, o governo Bolsonaro listou 23 crimes pelos quais deve ser cobrado pelos senadores após a instalação da CPI, prevista para esta terça (27). Preocupado com o desenrolar da Comissão de Inquérito, a chefia da Casa Civil de Bolsonaro listou e repassou a 13 ministérios pelo menos 23 possíveis crimes cometidos na condução da pandemia, que já ceifou a vida de 390.797 brasileiros.
A lista aponta, entre outras coisas, a minimização e o negacionismo da pandemia, a recusa em comprar 70 milhões de doses da Pfizer, a promoção do descrédito com fake News quanto à eficácia da CoronaVac, a não adoção ou incentivo de medidas restritivas, a promoção de tratamento precoce sem evidências científicas comprovadas, além da negligência no enfrentamento da crise no Amazonas.
O cardápio de crimes sobre os quais os senadores vão se debruçar é extenso. Os parlamentares terão alguns meses para investigar cada uma dessas ações ou omissões do governo Bolsonaro. Mas tudo vai depender do relatório final da CPI, peça fundamental inocentar ou condenar integrantes do governo.
Cotado para ser o relator da CPI da Covid-19, Renan Calheiros (MDB) é um senador experimentado. Na verdade, um político profissional. De 1979 até hoje, e lá se vão mais de quatro décadas, Renan ficou sem mandato um único período, 91 a 95, quando foi eleito senador por Alagoas e permanece até hoje.
Em seu quarto mandato no Senado, Renan presidiu a casa de 2005 a 2007, quando renunciou após denúncias de corrupção. Foi ministro da Justiça no governo FHC (1998-99), deputado federal duas vezes (83 a 91) e deputado estadual uma (79 a 83).
Renan perdeu o protagonismo em 2016, quando foi afastado da Presidência do Senado após liminar do ministro do Supremo, Marco Aurélio, por ser réu em processo criminal e não poder constar na linha de substituição do presidente da República. Em 2019, se candidatou à Presidente da Casa, mas percebendo a derrota para o candidato do governo, Davi Alcolumbre (DEM-AP), Renan retirou seu nome da disputa.
Agora Renan tenta ressurgir nos holofotes, assumindo a relatoria da CPI da Covid-19. Nesta entrevista exclusiva ao jornal Brasil Popular, o senador criticou os ataques que vem recebendo nas redes sociais após ter seu nome cotado para relator, disse não entender o ódio do governo Bolsonaro a sua pessoa e prometeu um “trabalho muito árduo, longo e difícil na apuração das responsabilidades”. Mas em tom moderador, disse “não vamos fazer PowerPoint contra o presidente”.
JBP – Qual a importância dessa CPI neste momento em que o número de mortos se aproxima de 400 mil?
Renan Calheiros – A maior virtude dessa CPI é sua criação e funcionamento. Ela servirá para iluminar todos os compartimentos escuros no enfrentamento à pandemia que, infelizmente, é um dos piores do planeta. A CPI será sim para apurar e apontar responsabilidades, seja de quem for por ação, omissão, incompetência, desídia ou inação. O Senado não pode ser um cúmplice silencioso desse morticínio.
JBP – Qual a sua expectativa em relação aos resultados da CPI? Há risco de terminar em pizza?
Renan Calheiros – Mais do que expectativa, o que podemos garantir ao país, aos milhares de brasileiros que perderam seus entes queridos é que haverá um trabalho muito árduo, longo e difícil na apuração das responsabilidades. O fato dela existir, contra a vontade de alguns, já é sinal de que ela apresentará resultados.
JBP – Ao ter seu nome cogitado para a relatoria da CPI o governo passou a agir contra. Por quê?
Renan Calheiros – Sinceramente não entendo a razão desse ódio. Posso garantir que a investigação será técnica. Não vamos fazer PowerPoint contra o presidente, não vamos pintar o alvo para depois disparar a flecha. Será uma apuração isenta.
JBP – Bolsonaristas passaram a atacá-lo nas redes sociais. Como o senhor vê essa questão?
Renan Calheiros – Minha equipe detectou utilizando um aplicativo que mapeia o comportamento dos perfis que mais de 67% desses ataques eram de robôs ou fakes. Denunciamos quase 3 mil. Isso é diversionismo, que não irá inibir nossos trabalhos.