‘As divergências foram se tornando cada vez mais claras’, explicou ex-ministro das Relações Exteriores sobre decisão de se desfiliar da sigla
O ex-ministro das Relações Exteriores Aloysio Nunes e Renata Covas, mãe do ex-prefeito Bruno Covas e filha do ex-governador de São Paulo Mario Covas, decidiram deixar o PSDB nesta quinta-feira, quando a sigla oficializou o apresentador José Luiz Datena como pré-candidato a prefeito de São Paulo. As saídas ampliam a debandada recente no partido, que vem perdendo nomes importantes repetidamente.
Quadro histórico do PDSB, ao qual era filiado desde 1997, Aloysio Nunes entregou ao diretório paulistano seu pedido de desfiliação, seguido de críticas aos rumos tomados no partido pelo qual ocupou os cargos de senador e deputado federal. Em entrevista ao GLOBO, o político enumerou algumas razões que o levaram a esta ruptura, entre elas a relação da sigla com o ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem classifica como “fascistoide”.
— São muitas (razões para deixar o partido), foram se acumulando desde a última eleição presidencial, quando o PSDB se declarou neutro. Eu considerei errado que um partido que tivesse democracia no nome mantivesse uma posição indiferente na eleição de um fascistoide como o Bolsonaro. De lá para cá, as divergências foram se tornando cada vez mais claras, a ideia de ser contra os dois extremos como se o governo Lula fosse extremista — pontua Aloysio.
Aloysio Nunes iniciou a atuação política ainda na década de 1960. Foi filiado ao MDB e PMDB, partido pelo qual foi vice-governador paulista na gestão Fleury (1991-1995). Pelo PSDB, foi deputado federal, ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso, senador e ministro das Relações Exteriores de Michel Temer. Atualmente, ele comanda divisão de assuntos estratégicos da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), órgão do governo federal, em Bruxelas.
Divergência sobre apoio a Nunes
Já Renata não expôs o motivo de desfiliação na carta em que comunica o diretório municipal da legenda em Santos, no litoral paulista, da decisão. No entanto, a filha de Mário Covas, outra figura histórica entre os tucanos, estabeleceu algumas críticas ao partido nos últimos anos. Durante as eleições de 2022, por exemplo, repudiou o apoio à candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao governo do estado.
À época, ela usou a sua conta no Facebook para definir como “vergonha alheia” a iniciativa de lideranças do PSDB em São Paulo, que presentearam o atual governador com uma foto de Bruno Covas, morto aos 41 anos em decorrência de complicações de um tumor. Acredita-se que Renata e a família estejam inclinadas a apoiar a reeleição de Ricardo Nunes (MDB), que era vice de Bruno.
Até a decisão de lançar Datena, o PSDB não tinha candidato próprio para disputar a cadeira ao executivo de São Paulo e estava dividido entre apoiar a reeleição de Nunes ou a deputada Tabata Amaral (PSB). O apresentador tem conhecido histórico de desistir de pré-candidaturas, e o PSDB é sua 11ª filiação partidária.
As saídas seguem na esteira de um esvaziamento da legenda. Na capital, os tucanos perderam toda a sua bancada de vereadores, então com oito representantes. Dos 238 prefeitos filiados ao partido no Estado de São Paulo, em 2022, restaram 26. Os dois últimos governadores, João Doria e Rodrigo Garcia, também deixaram a sigla.
O enfraquecimento da legenda, que costumava ser figurinha carimbada ao menos no segundo turno das eleições presidenciais até 2014, também ecoa pelos colégios eleitorais do país. O partido, que chegou a ter oito governadores depois das eleições de 2010, incluindo São Paulo e Minas Gerais, conta hoje com apenas três comandantes estaduais.
Para as eleições deste ano, os tucanos têm o desafio de voltar a conquistar prefeituras relevantes nas capitais. Hoje, só comandam Palmas, com Cinthia Ribeiro, potencial candidata ao governo estadual daqui a dois anos. Nessa missão, o PSDB aposta em nomes experientes em algumas cidades, como Curitiba e Belo Horizonte.
Na capital paranaense, o ex-governador Beto Richa —que cogitou migrar para o PL de Jair Bolsonaro, mas desistiu — vai concorrer à prefeitura. A disputa curitibana tem registrado empate entre vários candidatos nas pesquisas, incluindo o próprio Richa. Já em Minas, a aposta é no deputado federal e ex-governador Aécio Neves, ex-presidenciável que perdeu para Dilma Rousseff (PT) em 2014 e depois passou por um declínio político.