Em entrevista ao Diário do Centro do Mundo, Daniel Cara, educador e relator do GT, diz que o documento recém-lançado e traz soluções
O relatório “Ataques às escolas no Brasil”, elaborado pelo Grupo de Trabalho de especialistas em violência nas escolas, e publicado em novembro, traça um panorama preocupante. De 2022 até 2023, o número de ataques mais do que dobrou, subindo de sete para 16 casos.
O GT entregou esses dados ao Ministério da Educação. A relatoria é do professor da Faculdade de Educação da USP, Daniel Cara, com revisão de Helena Rodrigues. A catalogação e os gráficos são das pesquisadoras Catarina Santos e Letícia Oliveira.
O documento tem 150 páginas e o trabalho de mais especialistas, como Miriam Abramovay, maior estudiosa sobre violência nas escolas, e de Andressa Pellanda, cientista política, educadora popular e coordenadora-geral da Campanha Pelo Direito à Educação.
Também participaram da elaboração do relatório e fizeram importantes contribuições os psicólogos Gabriel Medina, Sarah Carneiro, o advogado Victor Grampa, além das professoras Rosilene Corrêa da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) e Madalena Peixoto da Contee (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino). Ao todo, trabalharam 68 especialistas da área.
De acordo com o levantamento, os ataques contra escolas no Brasil resultaram em 164 vítimas, sendo 49 casos fatais e 115 pessoas feridas. Entre os ataques, 16 utilizaram armas de fogo como armamento principal; 16 fizeram uso de armas brancas; e, quatro, de outros tipos.
A letalidade dos ataques com armas de fogo é muito superior, sendo responsável por 38 das 49 mortes ocorridas, ou seja, 77,55%. Enquanto isso, armas brancas foram responsáveis por 11 mortes (22,45%).
Demais tipos de objetos utilizados nos ataques não foram letais. Das 37 escolas vitimadas por ataques de violência extrema no Brasil, 30 são públicas (14 municipais e 16 estaduais) e sete são escolas privadas.
Propostas de soluções
O relatório dado ao MEC também elenca medidas para combater discursos extremistas digitais que estimulam novos ataques às escolas, como o fortalecimento da educação digital, midiática e em contato com pais para o uso “seguro e responsável” da internet.
Outra medida importante são o combate ao bullying e ao cyberbullying escolar com a elaboração de materiais de combate à conteúdos desinformativos que ajudam no crescimento de “discursos misóginos, racistas, homofóbicos entre outros”.
“Em primeiro lugar, fizemos oitivas, depois tomamos como base o relatório do governo de transição, que coordenei. Posteriormente, consideramos o relatório do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania”, disse Daniel Cara ao DCM.
“Por último, consideramos as experiências nacionais e internacionais, graças ao 1º Seminário Internacional sobre o tema, que ocorreu em Brasília sob responsabilidade do GT. Cabe agora aos governos [federal, estaduais e municipais] tomarem iniciativa. Da nossa parte, produzimos o estudo, construímos pontes e colaboramos. Agora vamos cobrar, especialmente o MEC”.
“O Ministério da Justiça e Segurança Pública está fazendo um excelente trabalho”, finaliza.
A influência gamer nos crimes e a recomendação do relatório
O documento também recorda o atentado de 20 de abril de 1999 efetuado por dois estudantes em Columbine, nos EUA, e a cultura de jogos eletrônicos de tiro em primeira pessoa. Em uma nota de rodapé do relatório, ele faz uma recomendação precisa envolvendo videogames.
“Este gênero é uma subdivisão dos jogos de tiro e se tornou amplamente popular a partir dos anos 90. Desde já é importante ressaltar que é inadequado e improdutivo culpabilizar e proibir games. Qualquer posição restritiva aos games resultará em ressentimento e ódio, aumentando o risco de novos ataques às escolas. Educar é melhor que proibir”, diz.
O relatório se soma a um documento que foi formalizado ainda no governo de transição para prevenir e monitorar atentados contra as escolas e, sobretudo, contra professoras e alunas mulheres, principal alvo desses crimes.
Além de Daniel Cara, o grupo de trabalho do relatório foi coordenado por Zara Tripodi, secretária da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão, e Yann Evanovick, coordenador-geral de Políticas para a Juventude da Secadi do próprio Ministério da Educação.
Veja abaixo os documentos na íntegra:
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