A Pandemia não fica distante do Acre. Ela se aloja no coração do Estado, rompe as barreiras das florestas, avança sobre os rios e chega nas comunidades tradicionais, indígenas e municípios considerados como de difícil acesso.
Lamentavelmente a velocidade do vírus é infinitamente mais rápida do que as políticas públicas de saúde, de assistência, de educação e de tantas outras. O Estado não chega, mas o vírus ocupa e ameaça vida das famílias de todas as regiões do Estado.
O Governo e Prefeituras atuam de maneira articulada, é fato. Não se nega. Mas a fragilidade das suas estruturas não permite oferecer o alcance necessário. Quem mais sofre com tudo isso, já sabemos é a população pobre. Na maior parte é negra e mulher. Os índios estão com os corpos ameaçados e vidas são comprometidas. É grave.
Até a tarde desta terça-feira (16 de junho), o aumento de contaminação e de mortes continua preocupante.
Quase dez mil casos de pessoas infectadas e cerca de 370 óbitos. As periferias da capital cada vez mais atingidas por essa “bomba invisível”. As cidades do interior sob sentimento de medo, ocasionado pelos vírus e pela situação de insegurança por falta de recursos públicos que assegurem dignidade e respeito às vidas. Principalmente dos mais pobres que juntam sonhos para sobreviver, em decorrência dos abismos existentes entre as classes sociais. Realidade que se repete em todas as regiões do país, porém muito evidente nesta parte da Amazônia.
Na contramão do momento, muitos destacam palavrórios nos parlamentos, pedindo reabertura do comércio em representação dos que dominam a economia local.
Contudo, deve-se reconhecer que aparentemente o Governo resiste às pressões políticas para reabertura dos setores de serviços e comércio, mas, aos poucos, ele é vencido. Percebe-se que esta possível derrota atende politicamente aos interesses de muitos dos seus aliados. Haja aliados interessados no recuo do Governador! Eles estão de Brasília à Cruzeiro do Sul (cidade polo da região do Juruá).
Permitir que isso aconteça pode parecer que sofreu uma derrota para o agrado de muitos, como também pode parecer que foi uma escolha política de forma silenciosa.
Por isso, a atenção aos riscos que rondam a população mais pobre, é imprescindível. Deve-se lembrar que faz tempo que ela é vítima da necropolítica instalada no país, situação que se consolida pela ausência de um Estado efetivo em todas as áreas e setores das políticas públicas, combinadas com a intenção real do Governo Federal, que também tem consequências no Acre. Este Estado não está distante dos centros urbanos, como muito pensam. A tudo se assemelha e sofre também.
A onda de flexibilização para a (re)abertura das atividades, cada vez mais forte, não desiste do seu objetivo. As autoridades, portanto, não podem deixá-la vencer, pelo bem da população e de todos aqueles que mais precisam, sem antes ter a garantia de que as estruturas hospitalares, leitos e vagas em UTIs sejam suficientes para atender a todos que sofrem com a pandemia e que sejam com qualidade.
Infelizmente, boa parte da população ainda está descrente do risco, fruto das constantes intervenções dos irresponsáveis de plantão que se reproduzem em todo o país. Outro desafio: silenciar as vozes dos, financeiramente, insaciáveis.