O dirigente nacional do MST falou sobre a crise estrutural na programação da 20ª Jornada da Agroecologia, no Paraná
Integrando os debates da programação deste sábado (25) da 20ª Jornada da Agroecologia, em Curitiba (PR), o dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, realizou a Conferência: A crise estrutural e a “Casa comum: as tarefas políticas deste tempo histórico”. Entre as pautas destacadas em sua fala, Stédile abordou as causas da crise climática e, principalmente, dos efeitos maléficos dos crimes ambientais para a população, com destaque para os agrotóxicos usados pelo agronegócio e que chegam até a população.
“Minha fala será baseada em uma metodologia que aprendi quando era muito jovem lá no interior do Rio do Sul, já que fui formado pelas influências da teologia da libertação. Os companheiros e companheiras agentes de pastoral usavam um método dialético que eles chamavam de ‘ver, julgar e agir’. Qual é o problema que a realidade está nos apontando todos os dias? Nunca antes na história do nosso planeta nós tivemos tantas mudanças climáticas. Nunca antes nós tínhamos assistido tantos impactos na vida normal. Sejam pelas ondas intensas de calor, pelas enchentes, os temporais, os ciclones, os maremotos, o nosso planeta, todo santo dia, evidencia situações anormais do que é a vida,” disse.
Stédile destacou que a crise climática é a consequência dos crimes praticados contra a natureza e que tem impacto na garantia de vida também para o ser humano. “O número de desastres, como lhes dizem – são crimes contra a natureza – nos últimos cinco anos aumentou cinco vezes mais a cada ano. Na última década, tem morrido, por consequência desses crimes, 115 pessoas por ano. Nas ultimas décadas milhares de espécies já desapareceram e que devagarzinho a espécie do ser humano também está sendo assassinado,” destaca.
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Aumento do uso de agrotóxicos
Ao elencar esses crimes, o dirigente nacional do MST também incluiu o aumento do uso de agrotóxicos em todo o mundo. “Nós nunca antes na humanidade tínhamos usado tanto agrotóxico. O agrotóxico mata a biodiversidade para salvar uma commodity, seja a soja, a cana, o milho. Quem usa agrotóxico é um criminoso, porque está usando veneno para matar algum ser vivo. E, esse veneno, por ser de origem química, não se dissolve na natureza, é um ser estranho na natureza e, por isso, contamina o lençol freático, os rios, a própria produção agrícola e até as nuvens,” explicou.
“Justamente por isso, 67% das cidades que fornecem água potável na torneira já fornecem essa água com doses inaceitáveis de glifosato. O capitalismo está envenenando a nossa população em doses diárias,” disse.
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Trabalhadores processam empresas por adoecimento causado por glifosato
João Pedro trouxe também dados a respeito do adoecimento de trabalhadores de empresas do agronegócio devido ao contato com o glifosato. “42 mil fazendeiros acometidos de câncer pelo glifosato nos Estados Unidos estão processando entraram na justiça contra a Monsanto e conseguiram uma indenização de 10 bilhões de dólares como reparação aos anos que perderam de vida. Esta semana, quatro agricultores americanos receberam uma indenização de [mais de] 1 bilhão de dólares porque também comprovaram que o câncer que tiveram foi desta mesma origem. Mas, mesmo assim, o capital não aprende porque, por exemplo, os deputados do Parlamento Europeu, a maioria da direita financiada por essas empresas, alongaram o uso de glifosato na Europa por mais dez anos,” salientou.
No dia 24 de outubro de 2023, cita Stédile, foi publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) o Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), fornecendo uma avaliação detalhada dos impactos, riscos e adaptação das mudanças climáticas nas cidades, onde vive mais da metade da população mundial. Nesse texto, os cientistas afirmam que “a vida no planeta está ameaçada e estamos agora num território desconhecido.” A publicação acrescenta ainda que os alertas sobre o que estamos vivenciando hoje foram dados há anos atrás.
O que fazer
Para Stédile, é preciso agir tanto do ponto de vista da sociedade como do poder público em todas as instâncias. O dirigente do MST destacou alguns pontos que considera como ação, tais como: lutar pelo desmatamento zero, lutar radicalmente contra o agrotóxico, combater as soluções ilusórias do dito “capitalismo verde”, combater a mineração predadora e nas cidades fazer o debate sobre o transporte público.
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