Os desdobramentos do caso Alec Baldwin estão eclipsados pelas manchetes destes dias no Brasil, especialmente as relativas ao relatório da CPI da Covid, mas explicam muito do que foi revelado pela CPI e muito do que está acontecendo no Brasil e no mundo de nossos dias.
Foi indiscutivelmente resultado de negligência e indiferença o disparo fatal de uma arma que deveria conter apenas cartuchos de festim mas continha um cartucho, pelo menos, carregado com o projétil que matou a diretora de fotografia Halyna Hutchins.
Essa negligência e essa indiferença não saíram do nada, saíram de uma cultura empresarial que, em nome da busca do lucro a qualquer preço, não tem o menor respeito pela vida humana, pelos cuidados que cada um, indivíduo ou organização, pessoa física ou jurídica, deve ter em relação ao outro, ou ao “Outro”, com inicial maiúscula, como se referem a ele textos religiosos da herança cristã tão explorados na defesa do capitalismo.
As investigações preliminares já revelaram que a arma supostamente cenográfica usada no ensaio daquela cena não era uma inofensiva arma cenográfica, era uma arma de verdade que já tinha sido usada em exercícios de tiro ao alvo, com cartuchos que não poderiam ser de festim. Essa arma não deveria ser usada num filme e, no entanto, foi a arma entregue pela profissional especializada em armamento cenográfico a um diretor assistente, como se fosse a arma inofensiva e adequada para o ensaio daquela cena. O diretor-assistente, por sua vez, segundo admitiu à polícia, não examinou a arma como devia e passou-a a Baldwin para ensaiar a cena.
Nem a especialista nem o diretor-assistente pensaram duas vezes. Provavelmente agiram de acordo com uma das regras fundamentais do arrastão neoliberal que governa quase o mundo inteiro há quarenta anos: economizar e cortar custos. Economizar o custo de uma verdadeira e inofensiva arma cenográfica e economizar o tempo necessário para o exame completo da arma escolhida. Além disso, no caso, obedecer às expectativas do gerente-financeiro da produção do filme, sempre de olho no corte de custos.
O aluguel ou a compra dessa arma usada antes em exercícios de tiro ao alvo já deve ter sido mais barato que o aluguel ou a compra de uma verdadeira arma cenográfica nova em folha. E a hora de trabalho dos dois profissionais deve ter custado menos, talvez por se tratar de pessoas menos experientes. Horas antes do desastre, outros profissionais contratados para o filme tinham protestado contra seus baixos salários, o atraso destes e suas precárias condições de trabalho.
Impor salários baixos e condições de trabalho precárias faz parte das incumbências de quase todos os vice-presidentes, diretores e gerentes financeiros de quase todas as empresas. Quando contratados, o que se espera desses executivos é que em primeiro lugar cortem custos, não que aumentem ganhos, ou pelo crescimento da produtividade ou por alguma boa ideia nova, desafios que sempre ficam em segundo plano.
Essa cultura primitiva e incivilizada é a que prevalece atualmente no governo brasileiro, em contradição até com os impulsos eleitoreiros de Bolsonaro, sempre que ele se dá conta de alguma situação propícia.
Em primeiro lugar, ele foi contra qualquer lock down ou restrição da atividade econômico, porque, a pretexto de proteger empregos, queria garantir os lucros cessantes das empresas.
No caso do auxílio-emergência, foi preciso o Congresso tomar a iniciativa, porque para o Presidente a pandemia não passava de uma gripezinha e a economia não deveria sofrer qualquer medida restritiva enquanto se esperava (e até se promovia, criminosamente) a tal imunidade de rebanho.
No caso do salário-mínimo, o que se pratica é seu reajuste abaixo da inflação, sem que o governo reconheça a verdade hoje incontestável de que o reajuste do mínimo acima da inflação é o maior instrumento de distribuição de renda que a economia capitalista conhece. E um bom instrumento de expansão do consumo, em benefício das empresas comercializadoras e produtoras.
Ainda agora, os registros comemorativos de uma pequena queda nas taxas de desemprego surgiram acompanhados da informação de que a renda média do trabalho diminuiu, comprovando que novos empregos só são criados com salários mais baixos. Ou seja, com os custos trabalhistas cortados.
A situação do Brasil sob o governo Bolsonaro é um horror sob todos os aspectos, mas o fenômeno não é exclusivo do Brasil. Nos Estados Unidos, o governo Biden, tolhido por sua escassa maioria no Congresso, não consegue cumprir a promessa de aumentar o salário mínimo de 7,5 para 15 dólares por hora, nem aprovar o projeto de investir mais de um trilhão de dólares num grande programa de reconstrução econômica.
É como se se estivesse cumprindo a triste e melancólica profecia de um public relations do neoliberalismo, Francis Fukuyama, segundo a qual a humanidade atingiu o fim da história e o modelo econômico atualmente em vigor na maior parte do mundo é um arranjo definitivo.
Acontece que as profecias desse tipo nunca foram duradouras, Hitler, por exemplo, sonhava com um Reich de Mil Anos. Dos mil projetados, o Reich de Hitler felizmente durou pouco mais de 12.
(*) José Augusto Ribeiro – Jornalista e escritor. Publicou a trilogia A era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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