A superação da pobreza energética e a eletrificação é um desafio crítico que afeta a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico em diversas regiões do mundo. Segundo a ONU, 685 milhões de pessoas ainda não têm acesso à eletricidade, com a maior parte dessa população concentrada na África subsaariana. No caso da Nigéria, cerca de 70 milhões de cidadãos vivem sem acesso à energia elétrica, o que impacta diretamente em suas condições de vida, saúde e oportunidades de desenvolvimento.
Neste contexto, a transferência de experiências e práticas bem-sucedidas de outras regiões do mundo pode ser uma estratégia eficaz para enfrentar essa questão. Um exemplo notável é o programa brasileiro Luz Para Todos, conduzido pelo Ministério de Minas e Energia, que foi implementado com o objetivo de universalizar o acesso à eletricidade em áreas rurais e remotas do Brasil. O programa não apenas ampliou a cobertura elétrica, mas também promoveu o desenvolvimento local, aumentando a qualidade de vida das comunidades atendidas, estimulando a cultura e a produção de alimentos.
A Experiência do Luz Para Todos
O Programa Luz Para Todos foi lançado em 2003, pela Presidência da República, e, ao longo dos anos, beneficiou milhões de brasileiros, levando eletricidade a comunidades que antes dependiam de fontes não confiáveis ou que viviam na escuridão. O programa se destacou pela sua abordagem integrada, com a participação de diversos ministérios, que considerou as especificidades locais, a participação da comunidade e a utilização de tecnologias apropriadas. Além disso, promoveu parcerias com empresas e organizações da sociedade civil, criando um modelo de colaboração que potencializou seus resultados, especialmente por meio da construção e instalação dos Centros Comunitários de Produção.
A Oportunidade para a África Subsaariana
Diante do cenário de pobreza energética e de falta de acesso à eletricidade na África subsaariana, a experiência do Luz Para Todos pode servir como um modelo valioso para países como a Nigéria, por exemplo. A transferência desse conhecimento,acumulado por décadas, pode ajudar a desenvolver políticas e programas que considerem as características locais, como a geografia, a cultura e as necessidades da população. Além disso, a utilização de tecnologias descentralizadas, como sistemas de energia solar com baterias e híbridos, em mini redes, pode ser uma solução viável para comunidades isoladas.
A implementação de um programa inspirado no Luz Para Todos na África, como parte da Cooperação Sul-Sul, não apenas atenderia à necessidade urgente de eletrificação, mas também poderia estimular o desenvolvimento econômico local, promovendo o empreendedorismo e a geração de empregos. A eletricidade é um motor fundamental para a cultura, a educação, a saúde e a melhoria da qualidade de vida, e sua expansão pode gerar um efeito multiplicador em diversas áreas.
A eletrificação na África subsaariana é um desafio urgente que demanda soluções inovadoras e colaborativas. A experiência do Brasil com o Luz Para Todos representa uma oportunidade real para a transferência de conhecimento e práticas que podem ser adaptadas à realidade africana. Investir em parcerias e na capacitação local é fundamental para garantir que as comunidades possam não apenas ter acesso à eletricidade, mas também usufruir dos benefícios que essa energia pode proporcionar. O futuro da eletrificação na África pode ser iluminado pela retomada da troca de experiências e pela colaboração entre nações em busca de um desenvolvimento mais inclusivo e sustentável.
(*) Por Fernando Portella Rosa, arquiteto e urbanista, consultor na área de energia e sustentabilidade.