O assessor de imprensa da Fundação Cultural da Bahia acertou em cheio ao intitular a matéria “Casa de mulheres, homens e livros” se referindo a Campesina, quando a equipe da Funceb esteve aqui em junho de 2012.
Se não fossem as mulheres seria impossível a Campesina ter resistido por todo este longo período de quatro décadas. [mais quatro anos completados no 15 de fevereiro ùltimo]
Nos inícios mesmos, em 1980, várias adolescentes nos davam uma tremenda força, principalmente para conseguir apoio junto a homens que –na esperança de ter algum caso com elas- se recusariam a nos prestar qualquer ajuda.
De memória posso citar Gal, Soraia, Márcia e Cida, dentre outras que não me recordo.
Minha primeira mulher, Evanina, plastificou centenas de livros das coleções Primeiros Passos, Tudo é História e Encanto Radical da Brasiliense.
Depois Nice começou a trabalhar na biblioteca. O salário dela era obtido através de contribuições que amig@s davam mensalmente.
Ela ia pessoalmente cobrar e quase sempre voltava com fichas de mais contribuintes que tinham aderido à nossa causa.
Nos anos 80s a professora Arturzita contribuiu para a aquisição de centenas de livros pro nosso acervo, enriquecendo-o consideravelmente.
Na sequência Nilva veio colocar seu talento e sua garra a serviço deste espaço cultural. Antes de vir ela já datilografava textos do jornal O Posseiro voluntariamente. E clandestinamente, sem o patrão dela saber.
Com Nilva criamos a Ninho de Letras, biblioteca especializada em livros infantojuvenis.
De segunda a sexta, a partir das 11 e meia a Campesina era invadida por uma enxurrada de crianças vindas da escola pra caírem nos braços da carinhosa bibliotecária. E que capacidade de lidar com crianças ela tinha… Eu ficava inebriado apreciando aquele espetáculo de beleza.
Até uma festa do dia das crianças na praça do Jacaré a Campesina promoveu organizada por essa grande figura humana.
Quando Xangai e Elomar vieram dar um show aqui no dia 26 de junho de 1985, trazidos pela biblioteca, foi Nilva quem saiu nas ruas a solicitar apoio financeiro pra bancar o cachê dos dois cantadores. Dizer não pra uma garota daquela, quem haveria de?
Conseguimos metade da grana, mas E&X ficaram satisfeitos, muito, o alto astral da cidade conquistou os caras.
Sucedendo Nilva chegou Angélica no final dos anos 90s.
Sem dúvida alguma, naquele período e adentrando o século XXI foi ela quem impediu que eu sucumbisse por várias vezes levando a Campesina de rolo.
Ela era quem na realidade segurava a barra e resolvia praticamente todos os problemas da biblioteca.
O afastamento dela causou um baque imenso e tive que fazer um esforço descomunal pra não jogar a toalha.
Portanto, a existência e resistência da Biblioteca Campesina se deve muito mais devido às mulheres do que a mim.
Graças a essas extraordinárias parceiras este patrimônio cultural do povo santa-mariense se firmou e continua disseminando cultura por este formoso Vale do Rio Corrente.
Biblioteca Campesina, 22 de maio de 2024
(*) Joaquim Lisboa Neto, colunista do Jornal Brasil Popular, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.