A véspera do 1º de abril foi dominada, até o meio da tarde, pela ameaça de João Dória de retirar sua candidatura à Presidência. Depois Dória retirou a retirada, manteve a candidatura e confirmou a renúncia ao governo de São Paulo e o que se passou a perguntar foi se com isso cresceria ou cairia sua cotação nas pesquisas eleitorais. Até a noite, permanecia em segundo plano o outro grande fato político do dia – Sérgio Moro sair do partido Podemos e entrar no União Brasil, que o acolhia com a ressalva de não aceitá-lo como candidato à Presidência da República.
Já na manhã de 1º de abril, porém, verificava-se não ser mais que provisório esse funeral da candidatura Moro e isso confirmava a afirmação, horas antes, de Diogo Mainardi, entre os jornalistas o maior defensor de Moro, de que este dava dois passos para trás com o propósito de em seguida dar vinte passos à frente.
Vai ser difícil – e não só pelo veto a sua candidatura por parte do grupo do União Brasil oriundo do antigo DEM. O líder desse grupo, ACM Neto, ex-Prefeito de Salvador e candidato ao governo da Bahia, vai enfrentar o candidato do PT ao governo do Estado, Jerônimo Rodrigues, mas já disse que não é inimigo de Lula, deixando implícito não querer hostilizá-lo na campanha. Ou seja, ACM Neto pode até cumprimentar Lula cordialmente se na campanha cruzar com ele por acaso em algum aeroporto, mas não só não vai subir no mesmo palanque de Moro como pretende até impugnar sua filiação.
Mesmo que consiga entender-se com ACM Neto, vai ser difícil Moro dar dois passos à frente, quanto mais os vinte prometidos por Mainardi. Ele trocou pelo rico União Brasil o pequeno Podemos, um partido de escasso poder real e abundante sentimento de onipotência, achando que neste não teria o dinheiro, a estrutura, as bancadas que pode ter no União Brasil.
Sem outra experiência que a do mandonismo, da arrogância, da falta de escrúpulos, da violência jurídica e da impunidade com que agiu nas fases de ascensão e auge da Lava Jato, Moro não entendeu ainda que teve excepcional cobertura de mídia ao ser lançada sua candidatura pelo Podemos – a mesma de que gozou como juiz – e não foi isso que lhe faltou, e muito menos dinheiro, estrutura e bancadas.
O que faltou a Moro foi ter o que propor a um país maltratado simultaneamente pela pandemia e pela indiferença e brutalidade de um governo que só pensa em perpetuar-se num poder com o qual não sabe o que fazer.
Assim como Bolsonaro, Moro não sabe o que fazer com o desemprego, com a inflação e a alta dos preços, com o preço dos combustíveis, com a estagnação da economia e com outro vírus, o da desesperança coletiva. Pior, Moro não sabe que, excetuada a fração irredutível da minoria inabalavelmente bolsonarista, agora o país inteiro sabe que foi ele próprio que abriu caminho ao bolsonarismo.
Moro, entretanto, já deve ter sentido que não há como voltar a ser o homem mais poderoso do Brasil, como na fase de ascensão da Lava Jato, quando nem o Supremo ousava contrariá-lo. Pobre garotão quarentão que acreditou na ilusão de levar para o Ministério da Justiça de Bolsonaro os poderes incontrastáveis que tivera como juiz promovido e protegido pela grande mídia. Bolsonaro serviu-se de Moro com a dissimulação que escondia uma esperteza privilegiada e em um ano livrou-se dele sem a menor cerimônia, para liquidar suas ambições de sucessor presuntivo.
Depois de uma temporada nos Estados Unidos como profissional de uma consultoria que administrava a recuperação de uma empresa destruída por ele, a Odebrecht, Moro acreditou ainda ser o suposto herói pintado pela mídia e voltou ao Brasil como candidato a Presidente. Nos primeiros dias, sua presença nas pesquisas parecia em rápida ascensão e chegou a registrar o índice de 11%, com os ambicionados dois dígitos que prenunciariam uma escalada ainda mais promissora. Mas logo esses índices atolaram abaixo de 10% e o deixavam ora no terceiro, ora no quarto lugar entre os candidatos.
Na véspera do 1º de abril, Moro deixou o Podemos, de cujos pobres recursos já tinha recebido 88 mil reais de salários, e assinou a ficha de filiação do União Brasil, que anunciou oficialmente não o aceitar como candidato. Na tarde de 1º de abril, numa entrevista sem entrevistadores visíveis nem perguntas audíveis Moro declarou que não desistia de coisa nenhuma e contava que os partidos da terceira via se unissem em tornou de uma única candidatura. A dele, naturalmente.
Moro terá, mais uma vez, acreditado nele mesmo?
(*) José Augusto Ribeiro – Jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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