O “Manifesto maranhense de artistas, intelectuais e lideranças religiosas em defesa da democracia e contra o fascismo” foi lançando no último sábado, 20/06. O documento visa angariar apoio de personalidades em geral da sociedade para que o Brasil se mantenha dentro do campo da democracia e que não se permita um retrocesso com a implementação de um autogolpe de Estado que venha romper com o grande pacto social consolidado através da Constituição e 1988.
Um dos nomes de destaque que o assinam é o do renomado cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro. Me chamou atenção, também, a presença no manifesto do ex-deputado estadual e jornalista Luiz Pedro. O ex-deputado é uma figura muito conhecida na cena política maranhense. Já foi correspondente de vários veículos de comunicação nacional em nosso estado e conseguiu se eleger ainda no período da ditadura militar. A sua presença confere legitimidade e torna o manifesto, de cara, digno de muita credibilidade.
No mesmo dia em que o manifesto é lançado o Brasil chegou à lamentável marca de 50.000 mortes em decorrência da covid 19, a nefasta pandemia que se alastra de forma gigantesca pelo Brasil. Os fatos podem não parecer relacionados de início, mas o atual clima político no país, que aponta para o risco de rupturas institucionais, nos alerta para o fato de que os acenos antidemocráticos denunciados no manifesto são exatamente o “meio de cultura” que tem alimentado a negação de um grave problema que provoca milhares de mortes.
O Brasil assiste uma espécie de guerra cultural e ideológica deflagrada pelo próprio governo. Alguns episódios chegam a ser engraçados. Cada vez que um aliado político rompe ou quando alguém é demitido ou entrega um cargo no governo, os memes bombam na internet. Surgem os “novos comunistas”, que são todos os rompidos. Um conceito que se sustenta no único fato de não mais apoiarem o governo do presidente Bolsonaro.
Mas, infelizmente, essa “guerra cultural e ideológica” não vive só de bom humor. Ela é ancorada em um conjunto de ideias, práticas e comportamentos que mesmo não sendo uma política de estado assumida, apontam para o que se chama de protofascimo – Um estado rudimentar, inicial ou mais primitivo, do fascismo implementado na Itália por Benito Mussolini. Nessa chamada fase antecessora não se utiliza da violência propriamente dita como instrumento de ruptura, mas sim de uma retórica violenta com o apoio em um líder “carismático”.
Aqui no Brasil isso tem se materializado em ideias ultraconservadoras relacionadas ao conceito de família, educação, arte, cultura e – chegando de forma inédita –, à área de saúde. Há uma espécie de fanatismo nas hastes governistas levando à crença de que o novo coronavírus seja considerado apenas o causador de uma gripe sem maiores consequências. Com relação ao patriotismo, se apoderam dele com exclusividade. Somente eles são capazes de amar a pátria, dizem. Enxergam comunismo e marxismo cultural em qualquer esquina.
O Manifesto é um clamor pela união do Maranhão, um estado plural e encantador. O texto cita os exemplos de ídolos populares maranhenses como Negro Cosme e Maria Firmina. Inicia afirmando que o Maranhão é a terra da liberdade. E liberdade, não podemos esquecer, é fruto de conquista continua. Já dizia o pensador e romancista italiano Humberto Eco: “liberdade é uma tarefa infinita”.
Steffano Nunes é médico veterinário e estudante de economia
(Publicado originalmente no jornal O Estado do Maranhão).