Desde a última eleição presidencial, o fantasma de uma intervenção ou golpe militar vem rondando o país. Os movimentos que tomaram as ruas denunciando e exigindo punição para os investigados em processos de corrupção, vez por outra traziam ali no seu meio faixas e cartazes com mensagens pedindo a entrada dos militares no jogo da política e que assumissem o comando da nação.
De início, ninguém quis se vincular com a paternidade do pedido pela volta dos militares. Muitos políticos de direita e coordenadores das passeatas sempre afirmavam que aquelas faixas eram fruto de pessoas “infiltradas” que nada tinham a ver com o real sentimento daqueles atos que objetivavam apenas a luta contra o “roubo” instalado no país.
O então candidato Jair Bolsonaro, chegou a colocar lenha na fogueira ao afirmar que se não fosse eleito não reconheceria o resultado daquela eleição, pois certamente ela estaria fraudada, posto que as pesquisas que o mesmo possuía e o engajamento que observava nas redes sociais o apontavam como favorito disparado na preferência popular para ocupar a cadeira de comandante do Palácio do Planalto. Isso deixava a dúvida no ar: se Bolsonaro não ganhar pode vir um golpe militar.
O resultado das urnas mostrou que Bolsonaro tinha a preferência popular, mas não tinha a larga vantagem esperada. O resultado foi de certa forma apertado. O que provocou uma segunda decepção nas hostes bolsonaristas. A primeira decepção foi não terem alcançado a vitória em primeiro turno. Hoje já se lança a suspeita sobre a construção dessa preferência, provavelmente edificava sobre fake news, mas isso é uma outra história.
Bolsonaro esperava implantar uma nova ordem baseada apenas no poder presidencial. Achava que a eleição permitiria ao presidente fazer tudo que quisesse. Isso não é possível, pois existe uma Constituição a ser seguida. Instâncias e poderes independentes devem ser respeitados por força da lei, como o Congresso Nacional que representa o legislativo; e o judiciário, representado principalmente pelo STF – Supremo Tribunal Federal.
Os poderes constituídos não abriram mão da independência e do espaço que lhes é assegurado por lei. Assim que isso ficou demonstrado na prática com a tomada de medidas e decisões judiciais que não permitem a instalação de uma ditadura por parte do presidente, voltou à baila a história da tal intervenção militar. Agora ela é praticamente oficial. Pedem explicitamente o retorno dos militares e o fechamento do Congresso e do STF: Acontece há 7 (sete) domingos seguidos, principalmente na capital federal e conta sempre com a presença do presidente que diz que só está ali para prestigiar quem o apoia. Diz que não concorda com intervenção militar e que respeita os poderes da nação.
A presença do presidente nesses atos que pedem os militares no poder é um estímulo à essa bandeira. Não há mais inocência que resista em acreditar que aquelas idas aos eventos dominicais sejam apenas para acenar e demonstrar carinho aos seus seguidores. O assunto está em pauta, sim. E o jogo está sendo jogado por parte do presidente visando uma ruptura institucional que force a entrada dos militares na briga para lhe garantir absolutos poderes.
Mas aí entra uma questão importante. Os militares topam comprar essa briga? E se topam, em quais condições? Quebrariam lanças para tornar Bolsonaro uma locomotiva sem freios?
Fechariam os olhos para as suspeitas de manipulação eleitoral com fake news, rachadinhas com dinheiro público, formação de milícias e o nebuloso assassinato de Marielle? Confiariam em dividir esse poder com Bolsonaro e seus filhos ou se apropriariam do trono para si mesmos? O mundo e o Brasil de hoje não são os mesmos de 1964. O uso da força pode levar à desmoralização das forças armadas. Não existe uma guerra fria na qual se possa jogar a conta de um golpe militar. A emenda pode sair pior que o soneto em tempos de informação rápida e mundo conectado.
Militares, via de regra, só querem entrar em batalhas que possam vencer. Lutar ao lado de Bolsonaro, por tudo que ele tem demostrado ultimamente, pode ser sinal de derrota cedo ou tarde. Talvez enxerguem algumas conquistas na ocupação desse espaço de poder. Não se pode desconsiderar a possibilidade de uma intervenção militar. Mas quem tem pescoço tem medo. E se não der certo? Serão anistiados? Possivelmente não. Quem vai colocar o chocalho no pescoço do gato? O risco de um golpe existe e pode ter apoio entre alguns oficiais, mas tudo indica que essa ideia só encontra apoio entre poucos militares da reserva, os que já vestiram o pijama e que poderiam optar pelo descanso e por embalar bons, sonhos, mas preferem alimentar o pesadelo de ameaçar a democracia.
Steffano Silva Nunes é médico veterinário e estudante de Economia