O governo passou a ter, nos últimos dias, uma combinação de problemas novos – tudo ligado ao pacote fiscal e ao corte de gastos, sendo um deles explosivo: a disparada nas cotações do dólar.
Para o presidente nomeado do Banco Central, Gabriel Galipolo, que toma posse em janeiro, não se trata de um ataque especulativo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que “prefere acreditar” que não está acontecendo esse ataque. Já o líder do governo no Senado, Jacques Wagner, que pouco discursa no Senado, desta vez discursou e sustentou que há, sim, uma operação organizada em andamento para forçar o Brasil a ir gastando e esgotando suas reservas internacionais.
Essas reservas montam a cerca de 360 bilhões de dólares e, na quinta-feira, o Banco Central gastou 8 bilhões para estancar a sangria e conseguiu que o dólar parasse de subir. Na sexta-feira, bastaram 3 bilhões para manter o dólar sossegado.
Em defesa de sua afirmação, o senador Jacques Wagner poderia ter citado o fato de que a disparada do dólar começou com duas declarações falsamente atribuídas a Galipolo por um perfil no X que arregimentou 3.500 seguidores e, a partir delas, fez chegar a milhões de outras pessoas as tais declarações que Galipolo não tinha feito.
Uma delas dizia que o governo adotaria mecanismos para privilegiar operações comerciais e financeiras em moeda dos BRICS (que ainda nem existe, está só em estudo) para acabar com o predomínio do dólar na economia internacional brasileira. Outra anunciava que o governo daria um jeito de baixar o dólar ao patamar de cinco reais, o que causaria grandes prejuízos a quem o comprou em quantidade a mais de seis.
O fato de essa operação ter começado no X levanta, desde logo, a suspeita de um ataque especulativo em escala ainda maior, envolvendo não apenas o mercado financeiro nacional, a chamada turma da Faria Lima, mas, politicamente, a internacional da extrema direita, excitadíssima com a próxima posse de Trump nos Estados Unidos e o surgimento de novas oportunidades para a desestabilização do governo Lula.
Se Lula, segundo as mais recentes pesquisas, pode ganhar em 2026, sendo ele mesmo o candidato ou até lançando o ministro Fernando Haddad em seu lugar, como é que a extrema direita vai disputar essa eleição se as coisas não piorarem muito no Brasil?
Um último registro: para dar ideia do poder do X, a mais recente avaliação da fortuna de Elon Musk situa-a em 400 bilhões, mais que as reservas de 360 bilhões de um país como o Brasil.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor, é colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna semanal “De olho no mundo”. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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