O “apagão” que atingiu por quase três horas os 1,4 milhão de habitantes da Grande Ilha de São Luís, que abriga quatro municípios, é parte de uma tragédia anunciada. Os sinais e os avisos vêm sendo dados.
Primeiro, tivemos o “apagão” do Amapá, que durou 22 dias e atingiu mais de 750 mil habitantes do Estado. Foram 13 dos 16 municípios amapaenses que ficaram sem fornecimento de energia a partir da noite do dia 3 de novembro, após um incêndio em uma subestação de energia em Macapá, causado pela queda de um raio.
Um detalhe do caso no Amapá chama a atenção: a concessionária de distribuição de energia elétrica é estatal, no caso a CEA. No entanto, a subestação atingida pelo fogo é de uma empresa privada. Trata-se da Isolux Corsán, de capital espanhol.
A subestação possui três transformadores que, se estivessem em operação, poderiam ter evitado a catástrofe que se seguiu ao incêndio. Mas, dois deles estavam inoperantes. Conclusão: a empresa espanhola até possuía sistemas de redundância, mas a falta de manutenção dos equipamentos possibilitou o quadro caótico que se seguiu.
O diretor jurídico do Sindicato dos Urbanitários do Maranhão, Wellington Araújo Diniz, em matéria do competente jornalista Samartony Martins, diz textualmente:
“Coube à Eletronorte através de seu competente corpo técnico local, e contando com a ajuda de técnicos do Pará, Rondônia e também do Maranhão, restabelecerem à normalidade o transformador avariado, e também montando um outro transformador de propriedade da Eletronorte proveniente de Boa Vista, Roraima”.
Outro “apagão” recente aconteceu na virada do ano, em Teresina. O gatilho do evento também foi um fenômeno meteorológico, no caso um temporal com ventos fortes e raios intensos. Houve muita queda de árvores. Dezenas de bairros da capital piauiense ficaram na escuridão, situação que perdurou em alguns casos, por 66 horas. Moradores foram às ruas em protesto (como ocorreu em Macapá) e o novo prefeito de Teresina chamou a direção da Equatorial Piauí, às falas.
O “apagão” maranhense, portanto, é o terceiro de uma série. Aqui também o episódio envolve uma companhia privada, a Maranhão Transmissão I, empresa de propósito específico vinculada ao grupo EDP. Conforme informações de todas as fontes, o episódio de hoje não foi decorrente de fenômenos atmosféricos. O que aconteceu foi decorrência da queda de um cabo que estava sendo instalado por trabalhadores da Maranhão Transmissão I e que passaria sobre linhas de transmissão já em operação. A linha operante pertence à Eletronorte, que desligou automaticamente quando foi tocada pelo cabo da empresa privada.
Entre 08:36 e 11:29, milhares de consumidores domésticos, comerciais e industriais ficaram sem energia elétrica em seus estabelecimentos. Os semáforos se apagaram e o trânsito se tornou caótico. Os prejuízos para a economia ainda não foram contabilizados.
Retomando as palavras do diretor do STIU, Wellington Araújo Diniz, “o futuro do setor elétrico do Brasil, sem empresas estatais será de escuridão, proporcionados por apagões, isso se o governo mantiver essa política de entregar a Eletrobrás e suas subsidiárias para o capital privado. Não se trata de previsão alarmante, já experimentamos isso, será que já esquecemos o que aconteceu no final do governo FHC, quando a falta de investimentos do governo tucano levou o Brasil ao racionamento de energia elétrica?”
Há apenas três dias, de forma profética, o STIU publicou um informativo cuja manchete dizia: O apagão do Amapá poderá acontecer no Maranhão em breve. No texto, a denúncia da demissão de 58 trabalhadores da Eletronorte, reduzindo o quadro da empresa de 288 para 230 servidores e servidoras. Ou seja, o desmantelamento do setor elétrico público está em curso. E as empresas privadas que ocupam o vazio aberto pelo governo Bolsonaro não adotam os mesmos procedimentos de segurança e de eficiência mantidos pelo setor público.
A lição que fica pode ser resumida pelo lema dos eletricitários na luta contra as privatizações: “privatizou, encareceu, escureceu”.
Saiba mais (clique no link a seguir): São Luís sofre “apagão” durante quase três horas