A presidente do SindSaúde-DF, Marli Rodrigues, em entrevista concedida ao Jornal Brasil Popular, sobre a pandemia do novo coronavírus, o Covid-19, defende mais investimento no Sistema Único de Saúde (SUS) e destaca a situação dos servidores do setor que, expostos ao vírus, estão travando uma luta pesada para combatê-lo. Marli considera importante que os equipamentos de proteção garantam a saúde dos servidores e ressalta que o reconhecimento a estes profissionais deve ser feito “com ações positivas”.
Jornal Brasil Popular: Como o SindSaúde-DF enxerga o Covid-19, no cenário nacional?
Marli Rodrigues: A pandemia no Brasil colocou o SUS à prova. Embora, já venha sendo fragilizado, há tanto tempo, por inúmeros governos, ainda assim, o SUS se mostrou exigente, forte, como o único sistema de saúde do povo. O SUS demonstrou mais fragilidades, principalmente no Norte do País, onde as Organizações Sociais (OSs) fizeram uma verdadeira devastação da saúde pública. A realidade mostrou também que, nos Estados onde há maior cuidado com hospitais públicos, a mortalidade tem sido menor.
JBP: Então, o que precisa ser melhorado no SUS?
Marli: Nós aprendemos que o Brasil precisa investir no SUS, investir em políticas que gerem saúde, como, por exemplo, a política de saneamento básico. Não é possível entender que UPAs e hospitais vão fazer brotar saúde em lugares onde 100 milhões de brasileiros não têm saneamento básico, que é importante e gera saúde. Infelizmente, em nosso país, 15 mil braseiros morrem, por ano, vítimas de doenças que surgem devido à falta de saneamento básico.
JBP: Como está a realidade da pandemia no Distrito Federal?
Marli: A dificuldade é generalizada no Mundo. No DF, não seria diferente, mas podemos observar que o Centro-Oeste tem sofrido um pouco menos que o Norte e o Sudeste, por exemplo. A falta de testes e equipamentos também foi um problema mundial, logo no início da pandemia, e estamos de olho para que os servidores, que estão no front, não fiquem sem equipamentos de segurança. Quanto aos números de vítimas, enquanto todos fazem sua parte no isolamento social, temos um morador do Distrito Federal que dá o pior exemplo, o próprio presidente da República. Aquele que devia pensar na saúde da população, mas que, ao contrário, motiva aglomerações.
JBP: E como estão os trabalhadores da saúde no DF?
Marli: Os servidores estão travando uma luta pesada no enfrentamento ao novo corona vírus, pois é muito complicado se combater algo invisível, que a ciência sabe muito pouco, até agora. No entanto, faz parte da missão dos profissionais de saúde não abandonar o paciente e cuidar com dignidade de cada pessoa afetada.
JBP: Quantos profissionais já foram afetados pelo coronavírus no DF, e o que o sindicato diz a respeito?
Marli: O boletim desta terça-feira, 19, da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, aponta 511 profissionais de saúde contaminados. Desse total, cerca de 430 seriam da rede pública. É um dado alarmante. O Ministério da Saúde está finalizando um estudo com um raio X desses profissionais afastados por suspeitas ou casos confirmados para Covic-19. É preciso entender também onde está a falha. Sabemos que a exposição deles ao vírus é sempre maior. Mas é preciso que os equipamentos de proteção garantam a saúde dos servidores. Imagine uma contaminação em massa desses trabalhadores? Será um caos ainda maior.
JBP: O que a sociedade pode fazer pelos profissionais de saúde que estão tentando salvar vidas?
Marli: Estes profissionais têm família, ficam doentes, morrem, e, em alguns momentos, precisam ficar isolados. Tudo isso mexe com o físico e o psicológico do profissional. Trabalhar com gente, não é trabalhar com coisas. Homenagens, palmas, gratidão e reconhecimento devem ser feitos com ações positivas, de valorização e proteção da vida destes profissionais.
JBP: Qual a lição que fica?
Marli: Fica essa lição: é preciso agora o Ministério da Saúde analisar os protocolos existentes, adequar o Brasil aos protocolos internacionais e criar os nossos próprios protocolos, para o país lidar com essa pandemia e com as possíveis pandemias que ainda virão. Enfim, a pandemia traz para nós, brasileiros, a reflexão sobre o quanto estamos atrasados, o quanto nosso sistema de saúde foi sucateado e o quanto precisamos dele.