Eu já vinha alertando a série de erros cometidos ano após ano aqui no Rio Grande do Sul. É só revisitar minhas NOTAS DO SUL.
Os erros estão lá na Guerra dos Farrapos, na Guerra Civil de 1893-95 entre chimangos e maragatos. Como foi uma estupidez a guerra de 1923. Aqui, tudo vira Gre-nal, referência aos nossos dois times de futebol.
A gente vinha mostrando que a monocultura da soja estupendamente adubada desde a década de 70 iria arrebentar com nosso solo. Não bastasse isto, veio o mar verde do burro reflorestamento, para turbinar a indústria do papel. Não tem mais rotatividade de culturas.
Agora, veio o infortúnio de mais uma amostra do caos climático, com uma das piores enchentes já vividas aqui.
São dezenas de mortes e quase uma centena de desaparecidos. Cidades sem energia e sem água.
Cidades isoladas. Um caos.
Quero ressaltar que nenhum modelo de gestão atual em nível local está dando conta dos episódios climáticos, como ventos, chuvas, alagamentos, granizo, desmoronamentos etc. Os tempos exigem mudanças não só de gestão e organização, mas essencialmente de governança local.
Os eventos climáticos extremos, tais como secas, inundações, ondas de calor, ciclones e furacões, estão se tornando cada vez mais frequentes e intensos no mundo afora, e o Brasil está nesse mapa.
Porto Alegre, que vivera poucos destes eventos, como a exemplo da enchente ocorrida em 1941, estava adormecido nas brumas do tempo. Porém, agora, estamos vivenciando um aumento de catástrofes climáticas em nosso território.
No Município de Porto Alegre, um muro separa a capital das águas advindas do Guaíba. Não foram as águas que invadiram a Capital, fomos nós que invadimos o Guaíba com aterros, esgotos e descartes equivocados.
Atentemos, em especial, à grande tempestade ocorrida em meados de janeiro de 2024 e o caos advindo da falta de energia elétrica e de acesso à água da população, que ultrapassou uma semana em algumas regiões de Porto Alegre, sendo importante o questionamento de como um conjunto de medidas para prevenir acidentes, os climáticos em especial, seria importante.
Porém, nada ou quase nada foi feito e a privatização da companhia pública de energia, CEEE, foi um erro grave. No início deste ano, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulgou os resultados do desempenho das distribuidoras na continuidade do fornecimento de energia elétrica em 2022. As últimas colocadas foram: 27º Equatorial (GO), 28º Equatorial (MA) e 29º Equatorial CEEE (RS). Ou seja, a própria Aneel reconhece a incompetência da empresa, portanto, parece ser evidente que os geradores deveriam ter sido instalados preventivamente nas casas de bombas.
Sabendo da incompetência e negligência da Equatorial que assumiu a CEEE, nada foi feito para termos geradores nas casas de bomba. E os alagamentos foram gritantes.
A limpeza da cidade tem se tornado um tormento aos moradores. Lixo jogado de qualquer jeito, misturados todos os lixos nos mesmos contêineres, nas bocas de lobo, aumentando e potencializando alagamentos.
Ruas com boas calçadas, sejam com pedras regulares ou irregulares, são tapadas com asfalto, e a água corre célere, sem parar, mas com bocas de lobo tapadas. Sem bombas, as ruas alagam e as casas são alagadas.
Em 2007, apresentei para a antiga SMAM um trabalho científico de poda preventiva que foi totalmente desdenhado. A culpa não é das árvores, é da falta de cuidado com elas.
Por estas razões, tentando enfrentar o caos climático apresentei na Câmara Municipal a criação de uma CÂMARA CLIMÁTICA MUNICIPAL.
Sem uma governança que uma o público e o privado nada vai evoluir. Não são gestões autóctones, encapsuladas, que vão salvar o Planeta. Em nível local, impõem-se as Câmaras locais, mas deve ser replicado nos Estados e em nível federal.
Aqui, um politico tucano foi relator de projeto para desmatar mais, outro queria colocar o nosso muro que nos protege das águas do Guaíba abaixo, ainda querendo ser candidato a prefeito.
Hora de radicalizar, ousar, mobilizar a sociedade civil esclarecida para não sermos tragados pela Natureza que tínhamos obrigação de proteger.
(*) Por Adeli Sell, professor, escritor, bacharel em Direito, vereador de Porto Alegre.