Brasília é conhecida como a “Capital da Esperança”. Para àquelas que fazem a economia girar, mulheres, negras, periféricas, LBTs, trabalhadoras, informais, mães, chefes de família e, que representam 52,49% do total da população do DF, segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD), viver na “Terra das Leis” é sinônimo de luta por sobrevivência, já que convivem com desvantagens históricas em relação aos homens.
Na “Terra das Leis”, ser mulher é enfrentar todos os dias as desigualdades de gênero, raça e classe. São meninas que devem usar rosa e cuidar da casa. Adolescentes periféricas que se arriscam em transportes públicos na busca dos estudos. Adultas que, quando tentam trabalhar, são limadas por sua identidade de gênero ou têm seus currículos de peso rasgados por empresas que as julgam pela “falta de perfil”.
Ser mulher no Distrito Federal e Entorno é conviver diariamente com a violência estrutural. Não bastasse os assédios diários, o governo atual ainda insiste em retroceder quando o assunto é o feminino. Como falar de saúde da mulher, se no dia 24 de dezembro de 2024, Ibaneis sanciona a lei de autoria do deputado distrital João Cardoso (Avante),criando o dia da Conscientização contra o Aborto no DF?
Maria Antônia, coronel da reserva remunerada da Polícia Militar do DF, foi a primeira mulher trans a alcançar uma patente na corporação no Brasil. Mas, como falar de igualdade de gênero, se a identidade de gênero ainda é um fator ameaçador para as mulheres trans? Em 2020, a violência contra pessoas trans no DF aumentou 271%, envolvendo violência física e sexual, além de crimes de ódio. A média de vida dessas mulheres é de 35 anos e as chances de inserção no mercado de trabalho são nulas.
Ser mulher no DF é comemorar a Lei nº 14.611/2023, que busca criar parâmetros para enfrentar a falta de igualdade de salários entre homens e mulheres. Entretanto, a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em 2024, mostra a vida real dessas mulheres. Elas representam 36,1% dos trabalhadores que são chefes de família, tendo uma renda média para trabalhadoras em Brasília, de R$ 2.964,00, o que corresponde a 77,3% da renda dos homens. No setor público, as mulheres não negras tinham a maior taxa de participação (23,6%). Entre aquelas que têm filhos, 21,6% vivem em arranjo monoparental.
Ser mulher na “Capital da Esperança” é lembrar das 23 mulheres, ainda vítimas de feminicídio em 2024, número menor em relação ao ano anterior. É respirar um pouco com a Lei 14.994, de 2024, que eleva a 40 anos a pena para tal crime.
Ser mulher nesse quadradinho é lutar diariamente!
(*) Thamy Frisselli – escritora e Jornalista
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