Para Riyad Mansour, embaixador palestino nas Nações Unidas, ‘nunca houve uma votação mais importante do que esta, histórica’
A Assembleia Geral das Nações Unidas votou, por maioria, na última sexta-feira, a favor da adesão da Palestina como estado-membro da organização, uma decisão não vinculante, embora simbólica.
A resolução, apresentada pelos Emirados Árabes Unidos, foi aprovada por 143 países. O Brasil foi um deles. Um grupo de 25 nações se absteve e nove votaram contra, entre eles EUA, Israel, Argentina, República Tcheca e Hungria.
O representante permanente dos Emirados na ONU, Mohamed Abushahab, dirigiu-se à Assembleia Geral antes da votação, enfatizando o amplo reconhecimento da legitimidade da candidatura da Palestina.
“A grande maioria dos países na Assembleia Geral está plenamente consciente da legitimidade da candidatura palestina e da justiça da sua causa, que hoje enfrenta tentativas ferozes de suprimi-la e torná-la sem sentido”.
Ele mencionou ainda que conceder à Palestina a adesão plena enviaria uma “forte mensagem” em apoio à solução de dois Estados, acrescentando: “O cumprimento da obrigação histórica da ONU para com o povo palestino já deveria ter sido feito há muito tempo, mas não é tarde demais”.
Já segundo o embaixador palestino nas Nações Unidas, Riyad Mansour, “estive nesta tribuna centenas de vezes, frequentemente em circunstâncias trágicas, mas nenhuma comparável à qual o meu povo vive atualmente. Nunca houve uma votação mais importante do que esta, histórica”, disse, com a voz embargada pela emoção.
Em plena guerra entre Israel e Hamas, na Faixa de Gaza, a Palestina, que tem na ONU status de Estado não membro observador, relançou, no início de abril, seu pedido de se tornar membro pleno da organização.
Votação pediu para Conselho reconsiderar adesão da Palestina como membro pleno da ONU
Para isso, é necessária a recomendação positiva do Conselho de Segurança da ONU, mas os EUA a vetaram em 18 de abril.
Agora, os palestinos decidiram recorrer à Assembleia Geral, onde precisavam da votação favorável de dois terços dos 193 Estados para aprovar uma resolução apresentada pelos Emirados Árabes Unidos.
Esta resolução considera que “o Estado da Palestina se qualifica para a adesão às Nações Unidas” e insta o Conselho de Segurança a “reexaminar a questão favoravelmente”.
“Poderíamos acabar em uma espécie de ciclo diplomático fatal, com a Assembleia pedindo repetidamente ao Conselho que aceite a adesão da Palestina e os EUA vetando-a”, explicou Richard Gowan, analista do International Crisis Group.
No entanto, o texto concede imediatamente uma série de “direitos e privilégios adicionais” aos palestinos a partir da 79ª Sessão da Assembleia, em setembro.
Embora exclua o direito de votar e de ser eleito como membro do Conselho de Segurança, o texto permitirá que a Palestina apresente diretamente propostas e emendas sem passar por um terceiro país.
Segundo a Agência Xinhua, a resolução determina que um Estado da Palestina está qualificado para adesão, abandonando a linguagem original de que, na opinião da Assembleia Geral da ONU, é “um Estado amante da paz”. Recomenda, portanto, que o Conselho de Segurança reconsidere seu pedido “de forma favorável”.
O representante permanente da Arábia Saudita nas Nações Unidas, Abdulaziz Alwasil, disse que “a resolução apresentada hoje está totalmente alinhada com essas resoluções. Ela procura implementar a vontade da comunidade internacional e contribuir para a construção da paz no Oriente Médio com base na solução de dois Estados”.
“Chegou a hora de a comunidade internacional restabelecer a verdade porque o mundo não pode mais ignorar o sofrimento do povo palestino que dura há décadas”, disse, após a votação.
Alwasil mencionou ainda que Israel, a potência ocupante, fez “todo o tipo de crimes” contra o povo palestino, desprezando o Direito Internacional.
“Israel está convencido de que eles estão acima dessas resoluções e que têm um certo nível de imunidade, o que explica as políticas hostis e brutais em andamento”, disse ele.
O representante permanente do Paquistão nas Nações Unidas, Munir Akram, disse à Assembleia Geral que chegará o dia em que Israel será responsabilizado pelos crimes cometidos contra os palestinos, especialmente em Gaza.
Os insultos hoje proferidos são “a arrogância do agressor” refletindo a impunidade do ocupante, disse ele, explicando a posição da sua delegação antes da votação do projeto de resolução.
Ele também espera que a comunidade internacional responda a isso adequadamente.
Akram destacou que a adoção da resolução determinará o apoio generalizado para que a Palestina seja considerada membro pleno da ONU.
Além disso, antes da votação, o diplomata palestino disse à assembleia que “nenhuma palavra pode captar o que essa perda e trauma significa para os palestinos, suas famílias, comunidades e para nossa nação como um todo”. Ele disse que os palestinos em Gaza “foram empurrados para o limite da faixa, à beira da vida” com Israel sitiando Rafah.
“Queremos paz e liberdade”, disse Mansour. “Um voto sim é um voto pela existência palestina, não é contra nenhum Estado. É um investimento na paz”.
“Votar sim é o certo a fazer”, afirmou ele, recebendo aplausos da assembleia.
O representante permanente de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan, acusou a assembleia, após a votação, de atropelar a Carta da ONU, e colocou a capa da Carta da ONU em um minitriturador de documentos elétrico portátil.
Na votação do Conselho de Segurança de 18 de abril, os palestinos receberam apoio significativo para a adesão plena à ONU, com 12 votos a favor. O Reino Unido e a Suíça se abstiveram, enquanto os EUA votaram não e vetaram a resolução.
Fonte: Monitor Mercantil com informações da Agência de Notícias Brasil-Árabe e Agência Xinhua