Conhecidos bolsonaristas de alto coturno passaram a semana pedindo desculpas e inventando pretextos por terem ido ao show de Madonna no Rio. É, eles foram ao show, apesar de todo mundo saber o quanto Madonna tem sido contestadora e atrevida em seus 40 anos de carreira.
O governador do Estado do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL), por exemplo, tentou justificar-se dizendo que foi embora logo ao perceber do que se tratava. Mas ele, pregador evangélico tão experiente, esperava do show alguma coisa inofensiva como a Noviça Rebelde? Ou queria aparecer e ser visto, aproveitando o público de mais de um milhão e meio de pessoas?
O senador Jorge Seif, PL de Santa Catarina, fez questão de discursar no Senado:
– Sei que decepcionei meus eleitores – disse ele, pedindo perdão por ter comparecido a um evento que ele próprio considerava impróprio para defensores da família e de valores judeu-cristãos.
Mas em mensagem de WhatsApp que acabou vazando, Seif culpou sua mulher, fã apaixonada de Madonna, por terem ido ao show.
Bem exibido no show, onde foi filmado socando o ar como um goleador quando Madonna cantava seu sucesso de 2005 “Hung Up”, Fábio Weingarten, ex-secretário de Comunicação e atual advogado de Bolsonaro, justificou-se postando uma foto de 2009 em que Madonna aparecia ao lado de Benjamin Netanyahu.
2009 foi o ano em que Netanyahu se tornou Primeiro-Ministro de Israel pela primeira vez, mas Weingarten não explicou em que circunstâncias foi feita a foto que ele tinha em sua coleção: foi dela a iniciativa ou era Netanyahu querendo aparecer ao lado de Madonna?
OS JUROS DO BANCO CENTRAL AINDA BOLSONARISTA
Ainda com maioria de diretores provindos da herança maldita do governo Bolsonaro e por ele nomeados com mandatos que invadem o governo Lula até o fim de 2024, o Comitê de Política Monetária do Banco Central voltou a reduzir a taxa Selic em apenas 0,25%, a pretexto de conter uma ameaça inflacionária que só existe na cabeça do presidente do banco, Roberto Campos Neto.
Não se trata de uma alucinação. Campos Neto foi posto em seu cargo precisamente para fazer isso – manter no mais alto valor possível a Selic, que garante a mais alta remuneração possível para os detentores de títulos da dívida pública, supostamente senhoras e senhores que investiram neles as parcas poupanças que custearão sua velhice, mas na verdade grandes fundos que operam com grandes massas de dinheiro de grandes grupos empresariais, somadas ao que absorvem dessas poupanças e se remuneram com muito mais do que pagam aos pequenos poupadores.
Esse mecanismo perverso dos juros altos, que a partir da Selic transborda para tudo que alguém paga de juros no país, da compra a prazo de um liquidificador à conta da farmácia no cartão de crédito. É como um pedágio invisível que até os pedestres, e não apenas os veículos, tivessem de pagar simplesmente por atravessar a rua.
No mesmo dia em que o Banco Central freava a redução de juros, um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), encomendado pelo jornal Valor Econômico, revelou que em 2023 as empresas brasileiras gastaram mais com pagamento de juros do que com investimentos. Foram 306,8 bilhões de reais com juros, 8,2% mais que em 2022, e 298,7 bilhões com investimentos, praticamente o mesmo valor que o do ano anterior.
Gastar mais com juros que com investimentos já é um prova monumental do absurdo do modelo econômico predominante no mundo desde que há quarenta anos as ideias simplórias do neoliberalismo se aliaram aos avanços da tecnologia para subordinar as funções produtivas da economia aos ganhos financeiros da especulação.
Pior ainda do que isso, é que os gastos com investimentos estacionaram de um ano para o seguinte, enquanto os gastos com juros cresceram 8,2%, bem mais que o maior crescimento do PIB das economias mais aceleradas do mundo.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor, é colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna semanal “De olho no mundo”. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.