Beacon School suspendeu alunos por gestos nazistas para colega judeu; colégio diz que abriu sindicância e repudia qualquer discriminação e manifestação de ódio
Pais de alunos do colégio Beacon School, no Alto de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, estão pressionando a direção da escola para adotar ações mais contundentes contra estudantes que intimidaram um colega de sala com referências ao nazismo.
Na semana passada, a escola suspendeu seis alunos de 15 anos que teriam ofendido um colega de turma que é de família judaica. Os estudantes estariam há ao menos duas semanas desenhando suásticas nos cadernos do menino e fazendo a saudação nazista quando ele entrava em classe. Também chegaram a reproduzir o hino da Juventude Hitlerista, grupo de jovens do partido de Adolf Hitler na Alemanha.
Em nota, a direção da escola disse que “tão logo tomou conhecimento sobre o episódio de antissemitismo” adotou imediatamente uma série de medidas, incluindo o “afastamento dos alunos agressores e acolhimento à família afetada”. Também abriu uma sindicância multidisciplinar para apurar o caso.
“A Beacon School registra que repudia veementemente toda e qualquer manifestação de ódio e destaca a sua firme posição contra qualquer forma de discriminação, tanto dentro, quanto fora do ambiente escolar, seja ela relacionada à nacionalidade, etnia, religião, raça, gênero ou quaisquer outros aspectos”, declara o colégio, em nota.
“Os alunos envolvidos estão afastados e a Beacon iniciou uma sindicância interna a fim de investigar cuidadosamente os fatos, seja para aplicação de sanções no caso concreto, seja para reforçar e prevenir qualquer episódio futuro de natureza discriminatória”, afirma a escola.
Pais do menino procuraram a escola na última quarta-feira (7) para denunciar a situação. A direção decidiu suspender por dois dias os seis estudantes agressores —a medida, no entanto, não impede que eles frequentem a escola, apenas que não acompanhem as aulas do dia.
O menino ingressou neste ano na Beacon School, vindo de uma escola judaica. Em uma mensagem a outros pais da escola, a mãe do aluno demonstrou preocupação com a violência sofrida pelo filho e também com as providências adotadas pela direção em relação aos outros meninos.
“Eles suspenderam os meninos por dois dias, sendo que um dos dias eles ficaram numa sala na escola todos juntos. Inaceitável! Meu filho está tão abalado que não quer mais pisar na escola. Uma tristeza sem fim isso estar acontecendo nos dias de hoje”, diz a mensagem.
“Provavelmente ele voltará pra escola antiga, mas se precisarem de algo contem comigo. Temos que educar e informar essas pessoas de tudo que aconteceu no mundo e com o nosso povo pra que isso não continue acontecendo. Soube também que várias crianças judias já tinham recebido essas provocações, mas nunca falaram, com medo de não ‘pertencerem’ ao grupo”, diz ainda o texto enviado aos pais.
Depois de o caso se tornar público, um grupo de pais se organizou para pedir que a adote ações mais duras para coibir novos casos de antissemitismo, além de outros tipos de discriminação.
“Nossa escola precisa adotar uma postura mais forte contra qualquer tipo de discriminação e bullying. O caso recente de antissemitismo não se trata apenas de uma brincadeira de criança que deu errado, mas de um problema profundamente arraigado que afeta a segurança e o bem-estar dos nossos estudantes”, diz uma carta aberta dos pais, que já tem mais de 350 assinaturas.
Um grupo de pais também decidiu se manifestar nesta segunda-feira (11). Eles vestiram roupas brancas para levar os filhos à escola, como forma de mostrar o descontentamento.
Em nota, a Beacon School disse que irá ampliar o trabalho com foco em ação contra qualquer ação discriminatória, inclusive envolvendo as famílias.
“A Beacon reitera o compromisso de atuar com celeridade diante de qualquer situação discriminatória, apurando os fatos em detalhe e com firmeza, aplicando as sanções cabíveis, incentivando sempre a reflexão para estimular a aprendizagem com o objetivo de formar cidadãos éticos, conscientes e comprometidos com a construção de uma sociedade mais pacífica e igualitária”, disse em nota.
Para os pais, é preciso mostrar que esse tipo de discriminação é crime. Eles lembram, por exemplo, do caso do colégio Porto Seguro em Valinhos (a 85 km de SP).
Em novembro de 2022, o colégio decidiu expulsar oito alunos que criaram um grupo de WhatsApp intitulado “Fundação Anti Petismo”, onde compartilhavam mensagens de cunho racista, homofóbico, nazista e gordofóbico.