EUA são um dos principais parceiros comerciais da União Europeia; republicano advertiu intenção de elevar taxas a produtos importados em até 20%
Durante sua campanha, Donald Trump advertiu sobre sua intenção de aumentar as taxas sobre produtos importados entre 10% e 20%. A ameaça é importante para a União Europeia, já que os Estados Unidos são um dos principais parceiros comerciais do bloco. Quase 20% das exportações dos Estados-membros em 2023 foram para o país, segundo dados do Eurostat, o departamento da Comissão Europeia encarregado de estatísticas. A Alemanha, a Itália e a Irlanda são as nações que mais têm a perder.
Em 2023, a Alemanha registrou um superávit comercial de quase € 86 bilhões (cerca de R$ 537 bilhões) com os Estados Unidos, segundo dados do Eurostat. Em meio a uma crise industrial, o país sofreu dois anos consecutivos de recessão e teme que uma guerra comercial com os Estados Unidos possa frear a tímida recuperação esperada para 2025. Segundo o Banco Central alemão, as políticas protecionistas americanas poderiam custar 1% do seu produto interno bruto (PIB).
A indústria automobilística alemã depende em grande parte do mercado americano: 12,6% dos carros e peças automotivas exportados pelo país em 2023 foram para os Estados Unidos. O setor foi um dos alvos favoritos de Donald Trump durante sua campanha, mencionando explicitamente BMW, Mercedes e Volkswagen. “Quero que as montadoras alemãs se tornem americanas”, disse em setembro passado.
A dependência dos Estados Unidos da indústria química alemã, que inclui multinacionais como Bayer e BASF, é ainda maior. Quase um quarto de todas as exportações farmacêuticas da Alemanha são destinadas ao mercado americano.
Um aumento acentuado nas taxas de importação poderia encorajar as empresas a produzir mais nos Estados Unidos, especialmente porque os fabricantes alemães já têm uma base sólida de produção no território americano, especialmente fabricantes e fornecedores de automóveis.
‘Planos de vingança’ de Trump
Mas as preocupações alemãs com o novo governo norte-americano, vão além da economia. O embaixador alemão nos Estados Unidos, Andreas Michaelis, que deve representar seu país na posse de Donald Trump, teria expressado preocupação com os “planos de vingança” do presidente eleito e dito que a agenda do chefe de estado pode minar a democracia norte-americana, em um documento confidencial vazado à imprensa e publicado neste domingo (19/01) pelo jornal Bild.
Segundo o diário, as declarações foram feitas em um telegrama diplomático enviado à ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, na terça-feira (14/01).
O embaixador denuncia, em particular, a “estratégia de perturbação máxima” do novo presidente norte-americano para “redefinir a ordem constitucional” de seu país.
O Ministério das Relações Exteriores alemão tentou minimizar o vazamento para a imprensa, dizendo que os Estados Unidos “são um dos nossos aliados mais importantes”. Além disso, afirmou que será uma questão de manter “uma colaboração estreita com a nova administração americana no interesse da Alemanha e da Europa”.
Itália conta com ‘amizade’ com Meloni
Outra grande exportadora europeia, a Itália é um dos parceiros comerciais preferenciais dos Estados Unidos. O país teve um superávit comercial de € 42 bilhões (R$ 262 bilhões) com os Estados Unidos em 2023. O mercado americano é um dos principais clientes dos produtos italianos, importando carros, vinhos, máquinas, navios e roupas.
Assim como a Alemanha, a Itália teme um aumento das taxas de importação dos EUA. Roma, no entanto, tem um trunfo: sua primeira-ministra, Giorgia Meloni, é a líder europeia mais próxima de Donald Trump. Os dois já se encontraram duas vezes desde sua reeleição em novembro passado e ela é a única líder europeia convidada a participar da cerimônia de posse.
Giorgia Meloni também tem excelentes relações com o bilionário Elon Musk, dono da Tesla e da SpaceX e figura onipresente ao lado de Donald Trump. As negociações sobre um possível contrato de € 1,5 bilhão (R$ 9,37 bilhões) entre o governo italiano e a SpaceX para fornecer um sistema de telecomunicações seguro recentemente revoltaram a oposição política na Itália.
Apesar das boas relações de Meloni com o governo Trump, nada garante que a Itália evitará uma guerra comercial entre a Europa e os Estados Unidos. Principalmente porque sua indústria automobilística depende, em parte, da saúde de sua contraparte alemã, já que várias empresas italianas abastecem fabricantes da Alemanha.
Além disso, de acordo com uma pesquisa recente do Youtrend Institute, 50% dos italianos acham que a presidência de Donald Trump prejudicará a Itália.
Irlanda vulnerável
A Irlanda poderia ser outra vítima europeia do novo governo norte-americano, já que o modelo econômico irlandês é particularmente vulnerável a um aumento do protecionismo.
Por um lado, os Estados Unidos são o principal mercado para exportadores irlandeses. Mais de 45% dos produtos exportados para fora da União Europeia pela Irlanda tiveram como destino os Estados Unidos em 2023, de acordo com o Eurostat, uma proporção única dentro da União Europeia.
Por outro lado, a Irlanda conseguiu atrair gigantes da tecnologia americana graças a impostos vantajosos. Este pilar da economia irlandesa não seria afetado por um aumento das taxas de importação, mas não seria poupado pela volta de Donald Trump que planeja baixar os impostos sobre as empresas americanas de 21% para 15%, o mesmo nível da Irlanda, para incentivar as empresas americanas e seus fun