O índice de isolamento social despencou definitivamente no país. A última estimativa é do dia 13/04. A média brasileira caiu para 46,2%. O Maranhão tem 47,5% de isolamento social. Apenas Ceará e Pernambuco têm 50% de índice. O mínimo necessário estimado pelos epidemiologistas é de 70% para retardar o crescimento da curva de contaminação, garantindo seu achatamento.
A circulação do vírus está a todo vapor no Brasil. Há estudos que indicam que 1 pessoa pode transmitir o vírus a até 6 pessoas, e assim sucessivamente. Ou seja, ou os governos estaduais endurecem o isolamento social, ou não há mais dúvidas que a estimativa de morticínio elevado será confirmada.
A Secretária de Saúde do Estado do Ceará divulgou análise que estima que, no mês de maio, Fortaleza terá 250 óbitos por dia em média. O índice de isolamento no Ceará caiu bastante na última semana. O que acontecerá no Maranhão? Minha estimativa foi de 3 a 5 óbitos por dia em média no mês de abril. Até agora os óbitos estão ainda nessa média. Mas com a redução do índice de isolamento social, vamos acelerar a circulação do vírus, ao mesmo tempo que os óbitos também crescerão.
Flávio Dino precisa endurecer as medidas de contenção da circulação de pessoas, pois a população sinaliza que não irá respeitar o isolamento social apenas através de medidas educativas. O grande problema da irresponsabilidade pessoal é que o covid-19 não tem impacto individual, mas ela é responsável pelo espalhamento da transmissão cada vez mais numa escala ampliada, quando a circulação de pessoas é aumentada.
Não temos no Maranhão estrutura de leitos no sistema de saúde estadual para acolher e salvar todos. Lamento, mas temos que dizer a verdade. Ou paramos com a circulação agora para tentar evitar o caos no mês de maio, ou vamos entrar rapidamente no colapso da saúde pública maranhense. O que temos agora como aumento dos óbitos e da contaminação é resultado do afrouxamento que tivemos no último mês. Sem planejamento e prevenção forte, o resultado será terrível e muito traumático para todos nós. Ainda há tempo para minorar o pior. Mas logo, não teremos mais.
A decisão de Flávio Dino de decretar lockdown apenas com 80% dos leitos ocupados é errada. Como temos no Maranhão um dos maiores crescimentos proporcionais de contaminação e o maior percentual estimado de subnotificações, logo chegaremos ao limite de absorção de novos casos pelo sistema de saúde. Assim, temos que agir por antecipação. Para o mês de abril nada mais poderá ser feito, a transmissão já ocorreu. Temos que evitar o futuro próximo. É simples. Um pequeno cálculo indica isso.
Saulo Pinto Silva é professor do departamento de economia da UFMA.