“Se não adotar lockdown, a capital será o epicentro da Covid-19 no mundo e criadouro de novas cepas ainda mais perigosas do vírus”, afirma matéria do The Intercept Brasil
Uma reportagem do site The Intercept Brasil, publicada no início da semana, dá conta que, no dia 21 de janeiro deste ano, o biólogo Lucas Ferrante, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), avisou, pessoalmente, o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), sobre o risco iminente de uma terceira onda de contaminação pela Covid-19 na capital do Amazonas.
As mortes por asfixia por falta de oxigênio em razão do aumento descontrolado de casos de Covid-19 em Manaus e no Amazonas não é nada diante da tragédia da terceira onda prevista pelo Inpe. Em seu Twitter, o jornalista Fábio Bispo, autor da matéria, diz que “o Brasil vai enfrentar uma terceira onda da pandemia, que poderá se arrastar até 2022, e Manaus será o epicentro. As previsões dos mesmos cientistas que avisaram sobre a segunda onda e foram ignorados.
O novo estudo, segundo a reportagem, envolve, além de pesquisadores do Inpa, cientistas das Universidades Federais de Minas Gerais, Amazonas, São João Del-Rei e uma aposentada do Instituto Butantan. Ele prevê uma terceira onda ainda mais dura que poderá se arrastar até 2022 e terá Manaus como epicentro mundial.
“Se não for tomada nenhuma iniciativa, como ocorreu no passado, a terceira onda será mais longa e matará muito mais gente. A alternativa é lockdown com mais de 90% de isolamento e vacinação de toda população de Manaus”, disse Ferrante ao The Intercept Brasil.
Ele contou ao jornal que, “na época [da publicação do primeiro estudo], fomos desacreditados e nenhuma medida mais racional foi tomada. Acertamos data, hora e local da segunda onda”, reclama o cientista. Por questão de confidencialidade, o pesquisador não pode divulgar mais detalhes antes da publicação do novo artigo, mas adianta que uma das previsões é a alta taxa de internação. ‘As internações não serão muito maiores, mas ocorrerão de forma contínua e mais prolongada’, explicou em entrevista ao Intercept.
O repórter Fábio Bispo escreve na matéria, publicada no início desta semana, que o aviso foi dado durante uma reunião rápida, de menos de 30 minutos. “Acompanhado de três assessores, o prefeito chegou a sinalizar que poderia adotar o lockdown para salvar vidas. Mas o discurso logo mudou, e o aviso do cientista foi ignorado”, informa o jornalista. O Jornal Brasil Popular publica a matéria na íntegra.
Ele conta, na matéria, que Ferrante e “outros sete pesquisadores elaboraram um modelo epidemiológico a partir das taxas de transmissão da nova variante do vírus no Amazonas, a reinfecção por perda de imunidade apresentada em pacientes após seis meses e os cenários de vacinação e isolamento social do estado. O estudo, que será publicado em uma revista científica de renome internacional e que está em fase de revisão, sinaliza a necessidade urgente de lockdown em Manaus e aponta para uma terceira onda de contaminação mais longa e que, potencialmente, pode causar mais mortes do que a observada em 2020”.
E afirma que em agosto, o grupo de cientistas já havia publicado um artigo na Nature Medicine, uma das principais revistas científicas do mundo, prevendo a segunda onda que agora atinge o Amazonas. Foram tachados de alarmistas.
E que a diretora-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, Rosemary Costa Pinto, que esteve em três reuniões nas quais ela foi alertada pelos cientistas sobre a segunda onda, negou as orientações dos especialistas. Coincidentemente, ela morreu de Covid-19, em 22 de janeiro, aos 61 anos, um dia após o cientista avisar ao prefeito de Manaus sobre a terceira onda.
A matéria indica que, em janeiro, houve um aumento de 632% na média móvel de mortes por Covid-19, maior aumento no País. Na última semana de 2020, a média diária de óbitos pela doença foi de 19 pessoas. No domingo, 31 de janeiro, foram 139 mortes. Exatamente como o biólogo Lucas Ferrante e demais pesquisadores do Inpa previram – e avisaram – as autoridades.
Bispo conta que “análises divulgadas no dia 13 de janeiro pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas apontaram que a nova cepa do vírus, descoberta em dezembro , já é responsável por 91% dos casos de infectados no estado. Segundo Ferrante, a nova cepa não é causadora da segunda onda, mas “causada pela segunda onda”. Para ele, chega a ser ingênuo achar que a nova variante está apenas em Manaus, quando ela já circula em outras regiões e mesmo em outros países, o que torna o caso da capital do Amazonas um exemplo do que o Brasil pode vir a enfrentar se nenhuma atitude for tomada”.
Ele diz que, “segundo o pesquisador, quanto mais tempo se leva para reduzir a circulação do vírus, maior será o número de novas mutações que irão surgir. ‘Ou se fecha toda Manaus agora ou Wilson Lima [governador] e o presidente Bolsonaro serão responsáveis pelo impacto de mais contaminações e mortes na república e no mundo'”.
Informa ainda que “os pesquisadores analisaram também o primeiro caso de reinfecção em Manaus. Segundo eles, a imunidade natural após a contaminação, que impediria que uma pessoa pegasse covid-19 novamente, não é duradoura como se imaginava. Em seis meses, as pessoas infectadas já podem apresentar perda de imunidade. Quem foi infectado pela primeira cepa do vírus, com origem em Wuhan, na China, também não está imune à nova variante em circulação, ainda de acordo com os cientistas”.
Fonte e matéria completa no The Intercept Brasil. Texto do JBP com alterações.