Era dia de Carnaval.
Garoa persistente.
Rua Major José Borba centro de Santa Maria.
No pátio dianteiro de uns 20m2 um cubículo de 2x1m abrigava em três caixotes de maçã alguns poucos livros.
Naquele 15 de fevereiro de 1980 duas dezenas de jovens entre 20 e 30 anos promoviam a arrancada da que iria, no transcorrer dos anos, se transformar na mais importante biblioteca do oeste e uma das melhores da Bahia.
Estamos falando da Campesina.
Embalados pela mesma erva que levou Gilberto Gil a prisão em Florianópolis quatro anos antes, seguida de uns goles do tinto suave Chapinha pra repor glicose, cantavam e bailavam pulando adoidado ao som desde Caetano Veloso, Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Armandinho-Dodô & Osmar, até culminar com o lisérgico- psicodélico Jimi Hendrix, nem de longe imaginavam que estavam exercendo papel protagônico na revolução cultural que se alastrou como rastilho de pólvora por toda a extensão do Vale do Rio Corrente.
Passadas essas quatro décadas mais quatro anos a Campesina continua firme, feito estaca que, como sabemos, quanto mais se bate mais se firma.
Foram, nesse largo período de existência, resistência e persistência, centenas de perseguições de todo tipo que a cara leitora e o caro leitor possam imaginar.
Até um agente [araponga] do Serviço Nacional de Informações [SNI] andou por nossa aldeia em 1983, bisbilhotando a Biblioteca, o jornal O Posseiro e consequentemente quem ora essas linhas redige.
Ao fim e ao cabo, vencemos
Por ser justa e pura a nossa causa.
Comemoremos, portanto, com muito júbilo mais este cumpleaños da nossa muitíssima amada e idolatrada Campesina, Patrimônio Cultural do Brasil.
Biblioteca Campesina, 15 fevereiro 2024.
(*) Por Joaquim Lisboa Neto, colunista do Jornal Brasil Popular, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.