É um livro lançado em 2023 com lei de incentivo do Ministério da Cultura. É uma produção da Le Blanc, com reportagem e redação de Patrícia Lima e produção executiva de Sandro Marafiga. Lidiane Blanco trabalhou na pesquisa e redação, sendo Eduardo Scaravaglione o fotógrafo. Tem o patrocínio da Baldo, Motormac e Elacy, em parceria com Sindicato das Ervateiras do RS.
Em suas mais de 200 páginas temos também a versão para o Inglês.
É de um lado um livro luxuoso, capa dura, tratado com esmero, e que espelha, de outro lado, a singeleza da produção da erva-mate e a cadeia produtiva envolvida que vai do tarefeiro até a mais moderna indústria.
Como se diz a “erva-mate protagoniza costume singelo, barato e democrático proporcionando bem-estar para as pessoas, além de grande impacto na sociedade, na economia e na cultura ao lado de gerações no Sul da América do Sul”.
O livro começa bem ao creditar a Saint Hilaire, o viajante e pesquisador francês, o seu registro científico e sua divulgação nos princípios do século XIX: “ilex paragariensis”.
Poucos sabem que era e ainda é uma árvore nativa destas regiões que se desenvolveu à sombra das araucárias, cujo uso foi descoberto pelos povos originários há milênios e com o contato com o europeu imigrante, com os paulistas que vinham com outros indígenas e negros escravizados foi se espalhando pelo continente e pelo mundo.
Fica claro que foram os jesuítas das reduções nas Missões que se apoderaram dos conhecimentos primitivos dos indígenas para usar, comercializar e levar ao mundo este tesouro de vigor saudável, tão e cada vez mais apreciado, não só na forma original do chimarrão, mas em chás, bebida gelada etc.
Com as crises naturais de toda e qualquer produção, às vezes até seu abandono, com a derrubada das matas nativas para outras produções, a erva se expande e com força..
Houve momentos em que os governos tomaram iniciativas como foi o caso de Getúlio Vargas em 1938, criação de institutos estaduais, leis em geral oriundas da atenção dos legislativos, como mais recentemente o próprio setor criando instituições de pesquisa e fomento, em parcerias com as universidades.
Um elemento que o livro destaca é a descoberta de pegar o fruto e fazer a semente germinar e dali ter a muda para criar ervatais plantados.
Cabe destacar que esta é uma planta que não há necessidade de uso de agrotóxicos, bastando alguns cuidados. Pelo contrário, há estudos da criação de um bioinseticidade da própria planta.
Na atualidade, os olhares para a planta da erva-mate não está apenas em tirar adequadamente o produto com erva-mate mais verdinha, muito consumida e apreciada, também a maturada, ou o tipo que mais se adapta ao uso do chimarrão ou do tererê, como o uso na gastronomia que se expande, em produtos de estética etc.
O resgate que o livro faz do seu lugar junto aos indígenas, seguindo e descrevendo uma jornada na mata, observando e descrevendo o “sapeco”, o carijó, é emocionante. Louvável são as referências a outros estudos como os do professor Tau Golin, em seus dois tomos de seu volume 4: A fronteira. Os organizadores mostram o papel da Emater, Embrapa e outras instituições, ou seja, mostram que uma cadeia produtiva se faz com pessoas na linha de frente e com pesquisas na retaguarda.
As histórias das famílias pioneiras no fabrico artesanal ao industrial, como a ousadia de expandir o seu uso para além do nosso chimarrão nos chama a atenção.
Do livro fica evidenciada a importância do papel dos governos, desde as ações da Prefeitura, dos governos dos Estados e também em nível federal. Igualmente, tem a questão da legislação. E o que nos chama a atenção que foi numa negociação com o IBAMA que o setor mais se beneficiou e não de algum projeto legislativo.
É um livro para pegar e ler de ponta a ponta, anotando locais, experiências para futuras visitas a estes locais, algo que pretendo fazer muito em breve.
(*) Por Adeli Sell, professor, escritor e bacharel em Direito.
*As opiniões dos autores de artigos não refletem, necessariamente, o pensamento do Jornal Brasil Popular, sendo de total responsabilidade do próprio autor as informações, os juízos de valor e os conceitos descritos no texto.