A ideia de um Rio Grande do Sul branco, teuto-italiano, foi vendida por anos pelo país afora. Isto é uma mentira, como são tantas outras que com mitos e lendas faz o Rio Grande do Sul um estado que parece ser mas não é: tipo “denorex”, lembram a propaganda?
A formação do Rio Grande do Sul foi a ferro e fogo. Lembremos as Guerras Cisplatinas, as contendas entre portugueses e espanhóis para delimitar as terras, a Guerra dos Farrapos, a Guerra da Degola de 1893-95, a Guerra Civil de 1923 e tantas e tantas peleias.
Se formos mais fundo, vamos ter que falar dos ditos “bandeirantes” que vieram ao Sul, armados, com indígenas forçados a luta contra aldeias, para prear gado, mulas etc.
Fala-se que Porto Alegre e a Região do Carvão são açorianas, como muito se fala de Rio Grande e Pelotas.
Porto Alegre tinha em 1814 em torno de 41% de negros e na Pelotas das charqueadas ali por 1870 mais de 70% da população era negra.
Hoje em dia, as armas de fogo são substituídas pelas redes na Internet, pelo PIX para fomentar acampamentos de golpistas na gente dos quarteis e para idas a Brasília ou para a Paulista.
No Rio Grande do Sul já foram desbaratados grupos de neonazistas. Sempre teve fábricas de armas, tem CACs por todos os lados, tem gente que coleciona arsenais.
Em 2024 tivemos vários casos de racismo na capital. Um negro é golpeado na recepção do prédio onde trabalho por homem morador branco. Um homem preto entregador, motoboy, é golpeado com uma faca por homem branco, na rua, sendo que a chamada Brigada Militar (nossa Polícia Militar) prende e algema o agredido, abrindo BO depois para ambos. Abre sindicância chapa branca e nada acontece.
Eu presenciei a cena mais horrorosa em pleno Centro Histórico da cidade, onde um morador de rua, negro, descamisado, é agredido por três funcionários de uma padaria, sendo que a mesma Brigada tentou algemá-lo, ato que impedi aos gritos, todos ali me conheciam, sou vereador, logo o episódio ainda está com a Polícia montada.
No ano passado, publiquei um livro chamado “Escravidão contemporânea – o caso da serra gaúcha – onde mostro o episódio dos 207 “baianos” submetidos á trabalho escravo na vindima, entre outros casos.
Neste ano, retomo o tema, para um balanço e vos digo: graças à fiscalização do MTE, que teve as amarras desatadas pelo governo Lula, livrou 3.190 pessoas de cativeiros no país.
Em meu novo livro que está na gráfica mostro que ainda há escravidão por aqui, narrando mais um caso de colheita de uvas e dois casos na colheita da maçã, na mesma Serra gaúcha.
Os rio-grandenses que costumam se autodenominar de gaúchos são tidos pela grande mídia como pioneiros desbravadores de outros estados, como mostrei em artigo anterior, não possam de bandeirantes famintos por riquezas.
Dos primórdios até hoje aqui no Rio Grande do Sul as coisas ainda são feitas a ferro e fogo. Estado que tentar esconder seu racismo e seus métodos escravistas.
(*) Por Adeli Sellé professor, escritor, bacharel em Direito e vereador do PT-Porto Alegre, RS.