A deputada federal Rosângela Moro, eleita por São Paulo, transferiu seu título de eleitora de volta para o Paraná, onde sempre morou, de modo a ficar disponível para disputar a vaga de senador a ser aberta na representação paranaense pela mais que provável cassação do mandato de seu marido, o ainda senador Sérgio Moro, o ex-juiz todo poderoso e anjo exterminador da Operação Lava Jato,hoje considerado nas pesquisas o mais detestado político do Brasil, com 65% de rejeição, mais rejeitado até que o grão-mestre do Centrão, Artur Lira.
Os partidos de direita e os grupos de extrema-direita no Paraná estavam sem candidatura viável para essa provavel vaga, à qual é candidata fortíssima a ex-senadora e atual deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT.
A eleição de Gleisi para a vaga de Sérgio Moro no Senado criará no Paraná tão conservador a uma situação sem precedentes neste século. Com mandato parlamentar garantido até a eleição geral de 2030, Gleisi terá várias escolhas à sua frente em 2026: ou ser candidata ao governo do Paraná, ou ser candidata à Presidência da República se Lula não disputar a reeleição, ou ser vice de Lula ou finalmente licenciar-se do Senado para assumir um ministério.
Além disso, Gleisi candidata ao Senado agora terá grande peso eleitoral na eleição municipal deste ano, especialmente em Curitiba, para derrotar o incansável e insaciável Deltan Dallagnol, que quer ser prefeito para em seguida lançar-se a outros voos, talvez a candidatura a governador em 2026 ou mesmo à Presidência da República, já que a igualmente incansável extrema-direita ainda não tem quem colocar no lugar de Bolsonaro.
Com aquele discurso feroz de seu power point contra Lula anos atrás, no auge dos pogroms políticos da República de Curitiba, Dallagnol pode perfeitamente ambicionar em 2026 o papel de pastor de lobos que está vago e lhe cai tão bem. Aliás, ele já começou os ensaios, comparecendo ao comício de Bolsonaro na Avenida Paulista.
A candidatura de Rosângela Moro ao Senado pode ser um bom reforço à de Dallagnol a prefeito. Mas os obstáculos começaram a aparecer na mesma hora. A transferência de seu domicílio eleitoral de volta a Curitiba já foi impugnada pela empresária Roberta Moreira Luchsinger e pelo grupo Prerrogativas, de advogados e juristas, que a acusam de estelionato eleitoral.
E ela de fato o praticou, não uma, mas duas vezes. Primeiro ao simular que se mudara de Curitiba para São Paulo. E gora ao abandonar a defesa dos interesses de São Paulo por uma nova carreira política no Paraná.
Se puder ser candidata ao Senado, a deputada Rosângela terá de enfrentar nos debates e nas urnas a longa experiência política e a grande força eleitoral de Gleisi, e sem o poder de fogo e de dinheiro que a extrema direita ainda tinha na eleição passada.
Se sua candidatura ainda é objeto de cogitação, é porque não conseguiram descobrir ou inventar alguém com apelo eleitoral. Mas talvez ainda consigam, se Dallagnol chegar à conclusão de que seu destino político tem mais futuro no Senado que na Prefeitura de Curitiba. Só que na corrida pela Prefeitura ele ainda não tem adversário em melhor situação nas pesquisas que a dele.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor, é colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna semanal “De olho no mundo”. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.