A queda na produção de milho afeta outros setores locais, como a produção de aves e suínos, cujas rações são ricas desse cereal de alto valor nutricional. Além, é claro, do consumo humano. Com a queda de produção e a alta do dollar em 2020, no varejo do Distrito Federal, o preço de uma saca de 40 quilos milho, que girava em torno de R$ 30,00, em março de 2020; agora está próximo a R$ 90,00. A grande valorização do cereal não parece ter sido atrativo suficiente para os produtores.
Éh, o mar não está para peixes, ou melhor, o campo não está pra lavoura, pelo menos aqui no Distrito Federal. A estimativa para a safra de cereais, leguminosas e oleaginosas, no Distrito Federal é de uma redução de 4,6% em relação à safra 2020. Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), do IBGE, março registrou uma colheita de 844.527 toneladas, contra 884.972 toneladas, no ano anterior. Esse quadro deve impactar no preço local, principalmente do milho, utilizado na produção de alimentos humanos e também na alimentação animal.
Muitos especialistas questionam essa produção de cereais no Distrito Federal devido ao tamanho do território. A cultura exige muita água. Há estimativas de que 70% do consumo d’água da Capital Federal seria de responsabilidade do campo. Para esses especialistas, seria melhor Brasília produzir alimentos voltados ao consumo do brasiliense, como hortigranjeiros, e não destinados à exportação, como é o caso do milho e da soja.
A queda do desempenho da lavoura brasiliense é ainda mais marcante quando comparamos com o quadro nacional. Em março, a produção brasileira de cereais, leguminosas e oleaginosas estimada para 2021 alcançou mais um recorde, devendo totalizar 264,9 milhões de toneladas, 4,2% (10,7 milhões de toneladas) acima da obtida em 2020 (254,1 milhões de toneladas).
É verdade que na contabilidade nacional, além da soja e do milho – predominantes no Distrito Federal –há também o trigo e, especialmente o arroz. A estimativa da produção de arroz (em casca) foi de 11,1 milhões de toneladas, crescimento de 0,9% em relação ao mês anterior e de 0,2% em relação a 2020. Essa produção deve ser suficiente para abastecer o mercado interno brasileiro. Para a safra 2021, a tendência é de que haja maior equilíbrio nos preços do cereal, que alcançou patamares históricos em 2020 alavancados pelo aumento do consumo interno, efeito da pandemia da Covid-19 e do aumento das exportações, devido ao estímulo cambial.
O Rio Grande do Sul é responsável por 70,3% da produção nacional de arroz e deve produzir 7,7 milhões de toneladas, aumento de 1,3% em relação ao mês anterior, mas queda de 0,8% em relação a 2020. Já a produção catarinense, de 1,2 milhão de toneladas, deve declinar 4,8% em relação a 2020.
Produção de grãos do DF
A produção de milho e soja representam 90,2% da produção de grãos do DF e correspondem a 85,5% da área colhida. Esta queda nos resultados, em tese, já era previsto, pois houve uma redução de 22,1% na área plantada/colhida desse dois grãos, que consequentemente resultou em 21,3% de queda na produção da 1ª safra do milho. Para a segunda safra, a previsão é de aumento tanto na área (18,1%) quanto na produção (12,7%). Para a soja, estima-se redução de 0,9% da produção em comparação com a safra de 2020, mas aumento de 7,4% na área plantada/colhida.
A queda na produção de milho afeta outros setores locais, como a produção de aves e suínos, cujas rações são ricas desse cereal de alto valor nutricional. Além, é claro, do consumo humano. Com a queda de produção e a alta do dollar em 2020, no varejo do Distrito Federal, o preço de uma saca de 40 quilos milho, que girava em torno de R$ 30,00, em março de 2020; agora está próximo a R$ 90,00. A grande valorização do cereal não parece ter sido atrativo suficiente para os produtores.
“O milho 1ª safra vem cedendo área para a soja. A safra 2019/2020 apresentou a menor área da cultura em toda a série histórica do IBGE para a cultura (desde 2002) e a tendência é de continuar cedendo mais espaço para a soja nos anos seguintes. Apesar disso, na estimativa de março, a soja teve uma queda pequena na produtividade por hectare devido ao excesso de chuvas no período da colheita. Por isso a área de produção foi menor”, explica o supervisor de pesquisas agropecuárias do IBGE-Distrito Federal, Elton Mendes Fior.
Por Chico Sant’Anna do blog Brasília