Passando em revista, de memória, os nomes que as escolas públicas municipais [além da estadual Rolando] de nossa cidade têm, despertei para um detalhe que se caracteriza, a partir de determinada ótica, pela misoginia.
Retrocedamos um pouco na história, indo nas raízes.
Em 1935, cria-se uma escola pública para a Rua de Cima, devido a aposentadoria da professora Etelvina Coelho. A nova professora foi Olindina Moncorvo, e seu marido Ângelo Portugal o professor. Na Rua de Baixo a escola pública era dirigida pela profª Quelidônia de Melo.
Foram minhas professoras, com exceção da última citada: Rosa Magalhães, Maria de Lima Athayde (Zizi), Josefa Laranjeira (Nucinha), Ursulina Gomes (Nena), Elza Almeida e Valentina Melo,.
A pergunta que não quer calar: há alguma escola em Santa Maria que leva o nome de pelo menos uma dessas acima citadas mestras?
Lamentavelmente a resposta é um rotundo NÃO!
As únicas três instituições que detinham nomeações feminis foram extintas: Rosa Magalhães, Marilene Matos e Maria de Lima Athayde. Os alunos das duas primeiras foram deslocados para a Dep. Ulisses Guimarães.
Atualmente só há uma escola municipal cujo nome é Ivani Marques Bueno, situada no Bairro da Sambaíba. Ela foi funcionária da prefeitura no Departamento de Pessoal.
É inconcebível que aquelas saudosas professoras que se dedicaram de corpo e alma [body&soul, a canção] a atividade magisterial sejam vítimas de –como me diz uma grande amiga- ostracismo, que eu definiria também como memoricídio.
Elas, com toda justiça, deveriam estar incrustadas no imaginário popular na área educação.
Como sabemos todos, a atividade de se ensinar a arte de ler e escrever sempre foi historicamente exercida em sua esmagadora maioria pelas mulheres.
E por que no nosso município elas são tão relegadas ao esquecimento?
As escolas rurais e urbanas de Santa Maria têm nomes de gentes que só frequentaram sala de aula como alunos, e olhe lá!, nunca como professores por um dia sequer, salvo equívoco de minha parte.
Confiram, caras leitoras e caros leitores, a lista a seguir, comprovando que o conteúdo contido neste texto reflete a realidade pura e simplesmente.
Triste, diga-se de passagem.
Biblioteca Campesina, 21 junho 2024
Escolas Municipais de Santa Maria
Antônio Rodrigues da Mata – Currais
Santo Antônio – Montevidinha
D. Pedro II – Tiririca
Boa Esperança – Ponte Velha
Cornélio Ferreira do Nascimento – Nova Franca
Bento Manoel – Caraíbas
Dep. Sebastião Ferreira – Sambaíba
Dep. Ulisses Guimarães – Macambira/Vila Nova
Izidoro Affonso de Oliveira – Brejo do Espírito Santo
Ivani Neri Bueno Marques – Sambaíba
Jeremias Rodrigues da Silva – Mocambo
Casimiro Moreira – Pajeú
José Álvares Brandão – Jatobá
José Teixeira de Oliveira – Dr. Roberto
Júlio Francisco dos Santos – Inhaúmas
Manoel Coelho – Açudina
Complexo Escolar Tito Livio Nogueira Soares – Açudina
Hermelino Marques – Piengo
Sebastião Xavier Moreno – Idem
Olimpio Fernandes Leão – Cuscuzeiro
Péricles Laranjeira Braga – Alto do Menino Deus
Raul de Souza Leão – Cuscuzeiro
Roberto Borges – Centro
Sen. Josaphat Marinho – Planalto
EXTINTAS:
Dr. José Borba – Alto da Igrejinha
Rosa Magalhães – Idem
Eliecim Bueno – Sambaíba
Marilene Matos – Centro
Arnaldo Pereira – Malvão
Bruno Neto – Idem
(*) Joaquim Lisboa Neto, colunista do Jornal Brasil Popular, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.