Elon Musk não tem queixas apenas contra o ministro Alexandre de Moraes e a Justiça brasileira. No Brasil, ele critica decisões judiciais que exigiram a remoção de manifestações golpistas ou a suspensão de manifestantes golpistas no antigo Twitter, agora conhecido como X e propriedade de Musk, tornando-se um refúgio cada vez mais popular para a extrema-direita global.
Esse protesto, que rapidamente se transformou em uma cruzada contra a democracia brasileira e se alinhou ao movimento global de extrema-direita liderado por Trump, Netanyahu e agora também por Musk, rendeu a Musk um convite para um debate em maio na Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, onde ele pretende fazer alguma denúncia impactante contra a “ditadura brasileira”.
O maior interesse de Musk no Brasil provavelmente está nas reservas de lítio do país, às quais teria acesso fácil e barato para suas fábricas de carros Tesla, caso Bolsonaro permanecesse no poder. Vale lembrar que, durante sua visita ao Brasil no governo anterior, Musk não precisou procurar Bolsonaro; foi Bolsonaro quem o procurou em um resort de luxo no interior de São Paulo. O mesmo está acontecendo agora com o novo Presidente da Argentina, Javier Milei, que viajou aos Estados Unidos para se encontrar com Musk.
Independentemente dos interesses de Musk no Brasil, seu tamanho financeiro no país será insignificante comparado ao que ele está tentando, e sendo impedido, pela Justiça dos Estados Unidos. Como CEO da Tesla, Musk conseguiu, em 2018, que o Conselho de Administração da empresa lhe concedesse um prêmio de 55 bilhões de dólares, mais do que o valor de compra do Twitter. A justificativa era que, em dez anos, ele elevaria o valor de mercado da empresa de 500 para 650 bilhões de dólares. Este prêmio também compensaria Musk por não receber salário, bônus de produtividade ou lucratividade, como outros executivos da empresa. Um acionista da Tesla discordou do valor do prêmio e entrou com um processo judicial para interromper seu pagamento.
O processo foi aberto em um tribunal comercial do Estado de Delaware, então sede legal da Tesla. Em janeiro deste ano, a juíza Kathalyn McCormick deu razão ao acionista e proibiu o pagamento, argumentando que a Tesla não havia justificado convincentemente o prêmio e seu valor.
A juíza foi cuidadosa em suas palavras. Ela poderia ter dito que Musk estava tentando aplicar um golpe, que havia funcionado em outras empresas: o CEO chantagear os acionistas minoritários e apropriar-se de uma parte significativa dos dividendos devidos a eles, já que os 55 bilhões do prêmio seriam retirados do lucro que seria convertido em dividendos.
O esquema do prêmio faria Musk lucrar muito mais prejudicando os acionistas do que com a venda de carros da Tesla, que seria, teoricamente, o principal objetivo da empresa e de seus gestores.
Diante da decisão da juíza McCormick, Musk transferiu a sede legal da Tesla para o Texas, na esperança de que as leis locais não permitam decisões como a de Delaware. Nos últimos dias, a Tesla, como pessoa jurídica, solicitou aos acionistas que, por maioria de votos, endossassem o prêmio de 55 bilhões para o Sr. Tesla, também conhecido como Elon Musk.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor, é colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna semanal “De olho no mundo”. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.