Na tarde de sexta-feira (7), Bolsonaro perdeu a cabeça de novo, depois do esforço que vinha fazendo desde a noite do primeiro turno para ser simpático e apaziguador e atrair apoios e votos no segundo turno.
Ele devia estar transtornado por uma sequência crescente de contrariedades: a derrota tão grande no primeiro turno, apesar de ter vencido nos Estados de São Paulo e do Rio; as adesões que Lula vem recebendo, a começar por Simone Tebet; e também o fogo amigo, às vezes de disparos remotos feitos por ele mesmo, que o têm alvejado.
Com uma história tão longa de controvérsias as mais constrangedoras, é incompreensível que Bolsonaro não se tenha preparado para responder ao ressurgimento de coisas que fez e disse no passado, e que constituem um verdadeiro fogo amigo, como, por exemplo, a entrevista ao New York Times em que se afirmou disposto a comer carne humana, em alguma cerimônia indígena, desde que cozida por mais de um dia e servida com acompanhamento de bananas.
Ou como a frase claríssima de que já bateu em mulher, em gravação antiga de áudio e vídeo viralizada na internet. Quanto a esta última, ele poderia pelo menos desculpar-se, pretextando que nas circunstâncias do momento perdeu o controle de seus atos ou foi vítima de um pico violento de hipoglicemia, mas que isso nunca voltou nem voltará a acontecer.
Quanto a comer carne humana, bastaria dizer que foi apenas irônico, que fez piada em resposta a uma pergunta absurda, já que no Brasil faz séculos que não existe antropofagia em cerimônias indígenas.
Tanto num caso como no outro – e em outros intermitentemente relembrados, muitas vezes em resposta a atos do próprio Bolsonaro – o que parece é que ele não faz a menor questão de vê-los esquecidos.
Nas respostas de sexta-feira em seu cercadinho do Palácio da Alvorada, ele tinha a seu lado o aliado e apresentador de TV José Luís Datena, o tempo todo de cara fechada, e reclamou aos brados que Lula não antecipa seu ministério, caso eleito, mas certamente – e aí Bolsonaro injetou veneno e perfídia no protesto – vai nomear José Dirceu para sua Secretaria de Governo, Gleisi Hoffmann para o Gabinete Civil e Dilma Rousseff para o Ministério das Minas e Energia.
Isso é mentira, especialmente em relação a Dirceu, tão mentira quanto o suposto voto do traficante Marcola em Lula, tão mentira quanto, em 2018, a onda do kit gay e da mamadeira erótica. Mas foi com esse tipo de mentira que Bolsonaro ganhou a eleição passada e tenta agora a reeleição.
Pouco depois dessa manifestação aos gritos, foi divulgada a pesquisa do Datafolha, a primeira no segundo turno e muito melhor para ele que as da Quaest e do Ipec na quarta-feira. Talvez esses resultados acalmem Bolsonaro, mas também ele pode estar achando que os recursos da agressão e da mentira já o levaram ao segundo turno e podem levá-lo à reeleição, que parecia impensável uma semana atrás.
O país, portanto, está diante de uma chantagem e os apoios que Lula tem recebido constituem muito mais, em muitos casos, votos contra essa chantagem. E por mais que disponham de grande peso político, como o de Fernando Henrique, talvez não tenham peso eleitoral capaz de compensar os estragos da onda de mentiras que se espalha por tantos setores de uma sociedade envenenada pelos mecanismos mais perversos das redes sociais.
A abundância de informação, escolha e esclarecimento que elas se propunham oferecer converteu-se no contrário e transformou seu principal instrumento, o telefone celular, naquilo que hoje Marx consideraria o ópio do povo.
Se, entretanto, as próximas semanas e as próximas pesquisas sustentarem a vantagem de Lula na pesquisa do Datafolha, o país terá conseguido fazer de nossa eleição um verdadeiro plebiscito contra uma chantagem política monumental travestida sob a roupagem de valores religiosos.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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