Minha poesia
– honesta
– domiciliar
não tem o que
presta para obrigações.
Não berra.
Não desentranha
palavras
e ferros.
Perra
escorrega
em silêncio
inzoneira
traiçoeira?
por entre ferros
de tantos mil anos
lambendo o chão
secando o corpo
secretando
sutis formas
de violação.
Sob a luz tênue
do amanhã
tão perto-distante
Utopia,
com clarezas
instantâneas
que o acaso
às vezes lhe confia
morde
Insolente
o calcanhar-de-aquiles
daquilo que ainda
se desenterra
que não se desterrou
que muito se transfigurou
que ainda resiste
ao nome
ao exame
ao proclame-se
nesses poucos cem anos
de (oficial) emancipação.
Poema da professora Maria Ricardina Almeida, dedicado a sua neta, Vitória.
Feminista, leitora atenta e observadora de seu tempo, Ricardina é sensível à superação dos obstáculos que se interpõem às lutas de todos os oprimidos, muito especialmente, às lutas das mulheres.
Ela coordena o Coletivo *Reflexão e Prática”, de esquerda, e colabora com o Jornal Brasil Popular.