O Brasil tornou-se o país da contrarrevolução, trazida nos navios portugueses que fugiam do imperador francês. Aqui foi construído um Estado oposto às conquistas democráticas modernas das revoluções inglesa – no Século XVII –, norte-americana e francesa, ocorridas no Século XVIII.
Duas ditaduras sangrentas já impuseram a obediência servil ao povo brasileiro, de Norte a Sul. Se isso não serve de alerta é porque, realmente, como sociedade, estamos anestesiados, ignorando que pode estar em jogo o conjunto de direitos conquistados na Constituição Federal de 1988.
Aqui, quando os abusos atingem um clímax, as massas se manifestam, mas logo depois é retomado o velho costume dos privilégios, dos favores entre compadres do poder, reservando-se os lugares hierarquizados de privilégios aos donos da economia, ignorando-se, porém, os direitos do homem e da cidadania.
A realidade de um Brasil despótico que pesa sobre nós precisa ser urgentemente desafiada num momento em que vários fantasmas nos aterrorizam com uma agenda de ataques aos direitos sociais e uma multidão de cidadãos sem vez e sem voz, vivendo em níveis críticos de extrema pobreza.
Neste cenário de pesadelo, a frente política plural que se esboçou nas últimas eleições terá, paradoxalmente, uma oportunidade para mostrar a que veio, convertendo a força e a legitimidade alcançadas no pleito em propostas que sinalizem outra saída, diante da tempestade que se anuncia.
Para isso, terá que reconvocar a esperança, criando no campo da política um horizonte alternativo. O maior combate será pela narrativa do que poderá tirar o Brasil da lama, rompendo com o neofascismo que se encontra estacionado em Brasília, cada vez mais apegado aos militares e aos fundamentalistas religiosos da teologia monetária.
Antonio Carlos Lua é jornalista