No feriado religioso da quarta-feira, Bolsonaro intrometeu-se nas cerimônias da Basílica de Aparecida como um adolescente rejeitado e revoltado que se infiltrasse sem convite num aniversário de 15 anos e, convidado civilizadamente a sair, armasse uma confusão para exibir sua índole e exercitar seus hormônios.
A Arquidiocese de Aparecida tinha anunciado antes que não convidara para essas cerimônias qualquer autoridade pública, municipal, estadual ou federal, para evitar que elas fossem exploradas eleitoralmente. Era uma medida prudente, diante da compulsão neurótica de Bolsonaro de aproveitar situações como a festa de Aparecida e antes o 7 de Setembro não só eleitoralmente como também para instigar ações golpistas.
Apesar do não-convite da Arquidiocese, Bolsonaro poderia comparecer comportadamente à festa, na condição de Presidente da República. Bastaria ele telefonar ou escrever ao Arcebispo D. Orlando Brandes, dizendo que uma lei de 1980, aprovada pelo Congresso e sancionada pelo Presidente Figueiredo, declarava feriado nacional o dia 12 de outubro, “para culto público e oficial a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil”. A melhor maneira – diria – de cumprir esse culto oficial seria o Presidente da República comparecer a uma das celebrações da Igreja. Isso seria válido mesmo no caso de o Presidente não ser católico, de ter sido batizado como protestante (como o ex-Presidente Geisel) ou de ser ateu, agnóstico, espírita ou mesmo evangélico.
É claro que o Arcebispo aceitaria o pedido e Bolsonaro seria recebido com cordialidade e as homenagens de estilo, ainda que sua presença não deixasse de ter caráter eleitoral e pudesse render alguns ou muitos votos.
Mas não era de votos que Bolsonaro estava prioritariamente em busca, era de confusão, como no 7 de Setembro, pouco mais de um mês antes – confusão para deixar sua tropa de fanáticos e arruaceiros mobilizada e em ponto de bala para a noite de 30 de outubro, na apuração do segundo turno. Confusão para tentar ganhar no grito o que não tivesse ganho no voto – tanto que quase simultaneamente à festa de Aparecida Bolsonaro pediu a seus possíveis eleitores que, depois de votarem no segundo turno, fiquem por perto de sua seção eleitoral, para o que der e vier.
Bolsonaro segue as táticas de Trump na invasão do Capitólio nos Estados Unidos, mas desta vez inovou, com a provocação de uma guerra religiosa paralelamente à guerra política. Essa guerra vinha sendo incutida apenas contra Lula, com as fake news de que ele fecharia igrejas evangélicas. Agora, com a arruaça na festa da Padroeira, essa guerra se amplia, fazendo com que toda a Igreja Católica se sinta atingida – a ponto de em poucas horas cerca de 400 padres e 10 bispos terem assinado um manifesto que acusa Bolsonaro de profanar o santuário de Aparecida e de a frase “Católico não vota em Jair” estar bombando na internet.
O pessoal de cabeça fria na campanha de Bolsonaro acha que ele cometeu um erro grave com sua presença no meio da arruaça em Aparecida e que da mesma forma sua candidatura pode pagar caro pelas fantasias sexuais da senadora Damares. Bolsonaro, porém, não parecia preocupado com isso na véspera do debate com Lula peta TV-Bandeirantes.
Ele poderia estar estudando alguma versão simplificada em bolsonarês da reportagem publicada na quinta-feira pelo jornal The Guardian, Londres, sobre a sessão pública encerrada pouco antes da CPI que investiga a invasão do Capitólio, a sede do Congresso dos Estados Unidos, no momento em que o Senado conferia os resultados finais da eleição presidencial de novembro, dando a vitória ao hoje Presidente Joe Biden contra o então Presidente Donald Trump:
– A comissão de inquérito da Câmara dos Representantes sobre os acontecimentos de 6 de janeiro – dizia inicialmente a reportagem – exibiu nesta quinta-feira, como prometera, uma gravação em vídeo do operador republicano e aliado de Trump Roger Stone discutindo a necessidade de violência em seguida à eleição e antes de 6 de janeiro, o dia do mortal ataque ao Capitólio.
O resultado da eleição ainda estará sendo apurado – opinava Stone – “e quando isso acontecer a coisa chave a fazer será proclamarmos nossa vitória”. Em outro trecho, ele acrescentava:
— O que eu digo é “foda-se a votação, vamos direto para a violência”.
A guerra religiosa desencadeada por Bolsonaro, assim como tudo que ele tem feito da campanha, enquadra-se nessa filosofia, mas, assim como nos Estados Unidos, tem tudo para não dar certo.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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