A modo de explicação
Caro e aleatório leitor,
Talvez pareça estranho que um médico ginecologista escreva o prefácio de um livro escrito por odontologistas, mas como não há no mundo dois fatos totalmente estranhos, apenas os laços que os unem nem sempre são vislumbrados, esta aparente incompatibilidade logo será explicitada.
O livro se intitula “Odontologia sem Máscaras, uma nova fase de interação profissional-paciente” e seus autores, Victor Hugo Berardinelli e Alexandre de Oliveira Rangel, o publicaram em 1999 e, portanto, meu prefácio é do mesmo ano.
Ei-lo.
Há dois mil e setecentos anos, os etruscos já executavam próteses dentárias. Conheciam as técnicas de implantes e elaboravam dentaduras com dentes de animais e de humanos, talhados de acordo com as necessidades do cliente. Duravam pouco, mas o método praticamente não progrediu até o início do século XIX.
Na Idade Média, os dentistas não acreditavam na manufatura de dentaduras postiças, portanto nada criaram para resolver o problema das precoces ausências de peças bucais de homens e mulheres da época. Assim, a ciência odontológica não evoluiu durante vários séculos.
Elisabeth I da Inglaterra, a Rainha Virgem (1533-1603), (que, aliás, poucos acreditavam no seu epônimo), e nunca se casou, tinha sérios problemas de ordem estética dentária.
Diante dos inúmeros namorados, dissimulava os buracos deixados por eles (os dentes, não os namorados), e assim evitava que os lábios murchassem, colocando tiras de seda nas gengivas.
Essa estranha solução somente conseguia dar um aspecto congestionado ao seu rosto e um enigmático sorriso, obrigando-a também a se expressar com uma economia de palavras, comportamento interpretado pelos súditos como indício de reflexiva e meditabunda sabedoria.
Foi também por problemas dentários de distintas damas da corte francesa que o famoso dentista parisiense Pierre Fauchard, no século XVII, criou um sistema de fixação dos dentes superiores mediante molas de aço, conectando-os dessa maneira com os inferiores.
Ficava, portanto, difícil para as damas manter a boca fechada, já que as molas tendiam ao oposto, mas diante das limitações técnicas da época, a invenção de Fauchard foi um progresso científico de monta.
Não faltaram, como sempre, críticos ferinos a sussurrar nas antessalas palacianas que, em se tratando de mulheres, suas bocas podiam se manter quase sempre abertas… para tagarelar (sic).
Somente no fim do século XIX e na quarta década do século XX é que a conservação e substituição das peças dentárias passaram a ser encaradas de modo mais científico e racional.
Não apenas com os cuidados preventivos obtidos com a inovadora “escova milagrosa” do Dr. West de 1938, como também com as refinadas técnicas, desde as próteses removíveis até os atuais implantes.
Nas patologias femininas, as medidas preventivas, aliadas às tecnologias reparadoras e curativas, são a chave para a manutenção de um bom estado de saúde bucal e geral, tanto na práxis ginecológica como nesse importante ramo da moderna medicina, a odontologia.
(*) Franklin Cunha é médico, membro da Academia Rio-Grandense de Letras
*As opiniões dos autores de artigos não refletem, necessariamente, o pensamento do Jornal Brasil Popular, sendo de total responsabilidade do próprio autor as informações, os juízos de valor e os conceitos descritos no texto.